Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ninguém diz nada

Fiquei simplesmente sem ação quando vi que meu último artigo, denominado “A farra das comunitárias”, não teve nenhuma repercussão. Parece que todos estão surdos e que a tendência da Rádio Comunitária em sua essência é sucumbir diante dos interesses do dinheiro e dos que têm todas as formas de poder. Acho que esse problema não é apenas em meu estado (Ceará). As rádios comunitárias acabaram incorporando todo o lixo do rádio tradicional e não servem de nada no sentido de atenção aos interesses populares. Estou generalizando nesta reflexão porque entendo que esta situação abrange quase todas e que pouco se há de fazer diante do descalabro e completa ineficiência dos órgãos fiscalizadores, que preferem empurrar a sujeira para debaixo do tapete.

A situação do rádio em geral é muito ruim e temos rádios que sequer estão dando oportunidades ao clamor do povo nem se abrem ao processo de interatividade, que é uma versão moderna da comunicação. A porcaria predomina no rádio e não há espaço para reclamações diante do que ocorre. Será que estão satisfeitos com o caos? Será que não há saídas? Acredito que sim, pois pela recepção deste artigo acho que ninguém se incomoda com isso e a situação está mesmo nas mãos dos poderosos da comunicação.

Os que se dizem representantes da comunicação democrática não estão nem aí para o que acontece no rádio – afinal de contas, é uma mídia que não dá dinheiro nem visibilidade. Temos poucos jornalistas fazendo programas de rádio e os radialistas estão sendo muito mal formados nos cursos de um mês onde não se aprende nem a planejar o programa. Aqui em Fortaleza se faz programa de casa, via telefone. Estão colocando pessoas com defeito labial para falar no rádio, estão colocando pessoas que não sabem ler para ler notícias no rádio e continuam a ler horóscopo no rádio o que prova uma comunicação capenga e sem perspectivas de modernidade. E vocês aí, calados sem dizer, sem agir, sem levantar da frente do computador e agir… O exemplo das manifestações do mês de junho não os contagia?

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Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE