Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Na briga pela ciência

Helena Bonciani Nader, professora titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi reeleita em junho presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a entidade mais representativa da comunidade científica do país, com cerca de 110 sociedades associadas e mais de 4 mil sócios ativos.

Depois de cumprir dois mandatos como vice-presidente e um como presidente, seguirá à frente da entidade até julho de 2015. Nos últimos anos, Nader foi uma voz importante na articulação de campanhas bem-sucedidas, como a que conseguiu derrubar um dispositivo da lei da carreira docente nas universidades federais que extinguia a exigência do título de doutor em concursos, e outras ainda não concluídas, como a que briga pela destinação de parte dos royalties do petróleo para a ciência e por mais recursos para a ciência e tecnologia.

Na entrevista a seguir, Nader, que também é coordenadora de área de biologia da FAPESP e professora honorária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, faz um balanço de sua carreira e de seu trabalho na SBPC, e fala dos planos da entidade.

Quais são os principais desafios da ciência brasileira na visão da SBPC?

Helena Nader – O Brasil está atravessando uma fase nova para a educação e para a ciência, uma fase de maior demanda e demanda qualificada. Na época em que a SBPC foi criada, 65 anos atrás, a ciência brasileira era muito pequena, restrita a algumas áreas do saber e a alguns pontos do país. Hoje a ciência está espalhada pelo Brasil e eu vejo isso como uma vitória de toda a comunidade científica. O panorama é muito bom, mas precisa de investimentos. Por isso lutamos por mais recursos para a ciência. Melhoraram os investimentos, mas estão aquém do necessário. A iniciativa privada investe, mas ainda aquém do que investe, por exemplo, o empresariado na China ou na Coreia.

E persiste uma assimetria entre os estados brasileiros?

H.N. – Tem diferenças. Aqui em São Paulo o panorama é um. O Rio de Janeiro também tem um panorama extremamente favorável. Minas Gerais agora está investindo proporcionalmente mais do que o Rio. Tenho um orgulho muito grande porque o Estado de São Paulo tem um papel muito importante no cenário científico brasileiro. Nós saímos na frente. A Constituição estadual de 1947 previu a criação de uma fundação de amparo à pesquisa, que cresceu com a confiança da comunidade científica e, importante, da comunidade política. A FAPESP conseguiu impor-se no cenário político, isso foi fundamental. E quando se faz a nova Constituição brasileira, em 1988, se coloca que todos os estados deveriam ter fundações e apoiar a ciência, a pesquisa e a tecnologia. A nossa FAPESP foi fundamental.

Recentemente, a SBPC liderou a campanha para reverter alguns dispositivos da lei da carreira docente das universidades federais. O resultado foi satisfatório?

H.N. – Quando vimos o projeto de lei, mandamos um documento assinado por mim e pelo Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, em que colocamos claramente os prejuízos, mas infelizmente não fomos ouvidos. A lei foi aprovada no dia 28 de dezembro. Depois da aprovação, a SBPC foi, tenho orgulho de dizer, a peça-chave na medida provisória da presidente Dilma, voltando a exigir título de doutor para ser professor de universidade federal, porque isso tinha acabado. É um absurdo. O país tem uma pós-graduação que está sendo copiada lá fora e de repente faz-se uma lei que diz: olha, quer ser professor na federal, basta ter graduação. Foi revertido. Mas há um ponto importante que ainda não foi revertido: é preciso tornar a nova lei compatível com a Lei de Inovação, possibilitando ao professor com dedicação exclusiva desenvolver projeto em empresa, desde que sem prejuízo das atividades de ensino. Nas universidades públicas paulistas o professor em dedicação exclusiva pode destinar um dia por semana a esse tipo de trabalho.

Duas bandeiras de sua gestão foram a reação ao corte de orçamento em 2012 e os royalties do petróleo…

H.N. – Nós temos hoje uma parceria com a Academia Brasileira de Ciências. Somos complementares. Com isso você tem a representatividade de toda a comunidade científica. Na visão de alguns, a academia é restrita… nós acadêmicos estamos lá no trono e lá embaixo tem a massa, o que não é real. A academia representa a elite e, no Brasil, elite é uma palavra gasta. Mas a SBPC representa todas as sociedades científicas. São 110 sociedades científicas. Quando um documento é assinado pelo Jacob Palis e por mim, tem um peso importante. Uma bandeira que assumimos foi a recomposição do orçamento depois do corte em 2012. E este ano a presidente Dilma, palavras ditas pelo ministro Marco Antonio Raupp, disse que não se pode contingenciar o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação [MCTI], assim como o da Educação. A gente conseguiu mostrar para os dirigentes a importância da ciência e da educação.

[Leia aqui a entrevista completa.]

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Fabrício Marques, da Revista Pesquisa FAPESP