Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O avanço de Dilma pós-protestos

A pesquisa divulgada semana passada pela CNT/MDA consolida a percepção de que a presidenta Dilma Rousseff foi a candidata mais afetada pelos protestos de junho, ou, mais especificamente, pela maneira como as corporações de mídia comunicaram os protestos. Por outro lado, Dilma foi a única a crescer em relação ao último Datafolha, que colocou os pesquisadores nas ruas durante os dias de protesto. Foi de 30 para 33,4, enquanto Marina caiu de 23 para 20,7, Aécio de 17 para 15,2 e Eduardo oscilou dentro da margem de erro de 7 para 7,4.

Esse movimento era esperado, tanto é que no dia 6/7 tuitei o seguinte palpite: Dilma – 35; Marina – 20; Aécio – 15; Eduardo – 5

Esclareço que não tenho nenhuma vocação para a vidência. Ocorre que desde o início do ano, quando o Datafolha fez seu primeiro levantamento, insisto que os dois fiéis da balança de 2014 serão a Mídia e os Evangélicos, justamente a combinação explosiva que levou as eleições presidenciais de 2010 para o segundo turno. A partir da análise constante desses dois fatores foi possível prever as oscilações ora encontradas pelos institutos de pesquisa.

Mesma pontuação

Momentos de ampla participação popular, sobretudo num país em que a mídia é monopolizada, tendem a prejudicar a avaliação dos mandatários que exercem cargos no poder Executivo; por isso os governadores do Rio e de São Paulo também perderam pontos.

Com relação ao governo federal, como a Economia segue dentro dos eixos, as taxas de emprego seguem elevadas e se amplia os canais de diálogo com os movimentos sociais organizados, a tendência era mesmo de recuperação gradual da presidenta que, a meu ver, ainda tem espaço para crescer. A imprensa tentou fazer barulho com o locaute dos empresários portuários, mas o governo reagiu rápido. Até o momento não se vislumbra um novo flanco para a oposição de direita, a não ser que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que promete trazer milhões de pessoas ao Rio de Janeiro, possa servir a este propósito – até porque são praticamente infinitas as possibilidades dentro de uma ilha de edição.

Marina Silva pode faturar com o evento, já que grupos evangélicos prometem manifestações. Além disso, ela é a candidata com perfil mais "messiânico", o que por si só pode agradar fiéis de qualquer religião. O momento é propício para que seus militantes saiam às ruas, tentando agregar as pautas de Marina ao leque de temas em debate na Jornada, o que pode reverberar nas próximas pesquisas. Quanto a Aécio e Eduardo, não creio que seus índices sofram alterações significativas em razão da JMJ.

O noticiário das corporações de mídia, essa semana, insistem no tema da inflação. A presidenta entra no debate e defende as medidas do governo para mantê-la dentro da meta. A pauta, em si, pode render alguns pontinhos ao candidato Aécio, que em seus espaços de comunicação com o povo vem batendo nesta tecla. 

No atual cenário, Dilma continua sendo a grande favorita, vencendo todos os seus oponentes no segundo turno. Sua vantagem não é mais a mesma que a registrada antes dos protestos, quando tinha mais pontos que todos os adversários somados. Agora, a presidenta tem a mesma pontuação que os dois principais oponentes somados. Como ninguém sabe o que vai acontecer durante a JMJ e também não sabemos em que momento as próximas pesquisas serão realizadas, fica difícil fazer qualquer previsão. Mas, no geral, a tendência é a presidenta continuar crescendo. Marina pode subir alguns pontos, enquanto Aécio e Eduardo devem estabilizar. A conferir.

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Marcelo Salles é jornalista; @MarceloSallesJ