Manifestações violentas continuam no Rio de Janeiro. Para muitos, já têm cara de “intifada”,termo árabe que pode ser traduzido como “guerra das pedras” ou revolta nos territórios palestinos. No Brasil, as manifestações populares ainda não têm nome definitivo. Pode ser intifada, mas também pode ser primavera brasileira, ou simplesmente baderna ou caos.
O certo é que quase todos os dias jovens mascarados vão às ruas para enfrentar forças policiais atirando pedras e coquetel molotov. Mas diante da onda de manifestações que assola o Brasil, o que você prefere fazer? Continuar indiferente, participar dos protestos, segurar cartazes, atirar pedras ou assistir a tudo pela TV?
Se a sua opção é ver “tudo” pela TV, você, assim como eu, está enfrentando sérios problemas. Até recentemente, a única opção era assistir à cobertura jornalística dos protestos pela TV tradicional. Os manifestantes que tomam as ruas do país têm reclamado de muitas coisas, inclusive da cobertura jornalística na TV. O grande problema é que os manifestantes não se veem na televisão como a conhecemos. Tudo parece irreal, fora da realidade.
Os telejornais tornaram-se algo parecido com a famigerada Voz do Brasil: “Ouça-me ou me desligue”. A única opção para quem gosta de televisão de qualidade, infelizmente, é desligar a TV.
A passividade ou indiferença do telespectador é algo comparável com a imagem do Brasil como gigante adormecido. Existe há muitos anos, quase todos acreditam e parece ser inevitável. Assim como os problemas no transporte público, a corrupção, a falta de educação e saúde, não parece haver solução ou alternativas.
Caminho alternativo
Mas algo está acontecendo no cenário televisivo brasileiro. No ar, a guerrilha televisiva.
Assim como manifestantes tomaram as ruas do Brasil, alguns jovens se apropriaram da televisão digital para mostrar o que não vemos nos telejornais. Já existem vários grupos produzindo guerrilha televisiva. O mais conhecido é o Ninja, sigla para Narrativas Independentes Jornalismo e Ação. Eles produzem a PÓSTV, mídia digital alternativa e independente.
Durante os últimos protestos, os guerrilheiros televisivos do Ninja ganharam grande visibilidade na mídia tradicional. Aqueles jovens e seus celulares com transmissão ao vivo via internet se transformaram em “estrelas” da cobertura digital. Agora são protagonistas da História.
Nos últimos dias, eles foram barrados em coletiva do governador Sérgio Cabral e depois foram recebidos pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em entrevista exclusiva divulgada na internet.
Mas a situação se complicou. No dia da chegada do papa ao Rio de Janeiro, dois repórteres da mídia Ninja foram presos pela polícia durante manifestações em frente ao Palácio Guanabara, residência oficial do governador do estado.
A reação dos manifestantes foi imediata e violenta. As armas dos guerrilheiros digitais são os celulares, as câmeras de vídeo e, principalmente, o público. Milhares de pessoas estão ligadas nas transmissões ao vivo da nova mídia.
TV ainda é poder. Hoje já é possível para qualquer pessoa produzir a essência ou o “milagre” do meio: transmitir imagens e sons ao vivo. A qualidade técnica ainda é limitada, mas o conteúdo, ou seja, aquilo que realmente interessa em um meio de comunicação, é único e diferenciado.
Os guerrilheiros das pequenas TVs digitais de verdade, aquela na internet, talvez estejam indicando um caminho alternativo: prioridade no conteúdo, na ação interativa sempre perto e sempre ao vivo.
Sejam bem-vindos ao futuro.
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Antonio Brasil é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Telejornalismo (GIPTELE) e autor do livro Telejornalismo Imaginário (Editora Insular)