Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os desatinos da presidente

Em discurso gravado semana passada para a abertura do Foro de São Paulo e reproduzido em partes em reportagem pelo Estado de S.Paulo em seu site (ver aqui), a presidente Dilma Rousseff falou durante cerca de quatro minutos dando a saudação aos companheiros de esquerda da América Latina (ver aqui). Este tempo foi suficiente para a exacerbação da falta de discernimento quanto ao cenário atual vivido pelo Brasil e as supostas conquistas no continente.

Entre os destaques do discurso de Dilma podemos apontar ao menos cinco que são, no mínimo, incoerentes. São eles:

1. Nova Política Econômica de controle de inflação com crescimento – O continente é apresentado pela presidente como uma alternativa global de modelo de política econômica, porém parece que ela não acompanha os indicadores econômicos e a realidade do povo, pois nos últimos meses o que mais tem gerado falta de confiança do consumidor, e mesmo do investidor, é a alta constante da inflação, que sempre fica acima do centro da meta, e o baixo crescimento que já começa gerar impactos na produção industrial e pode tornar-se um grande desafio no futuro.

2. Liberdade de opinião – Todos sabemos que na América Latina, nos países onde é majoritária a esquerda, os órgãos de imprensa sofrem diariamente. Haja vista a situação na Argentina e na Venezuela, onde vários jornais e outros veículos são fechados judicialmente ou mesmo sofrem golpes econômicos somente por criticar as demandas geradas pelo governo daquele país. E no Brasil a situação não é tão diferente, pois por diversas vezes o PT tentou resgatar seu plano de democratização dos meios de comunicação, que por sorte por enquanto ainda não obteve êxito.

Royalties do petróleo sequer existem

3. Políticos eleitos democraticamente – A máxima é que todos os governantes foram eleitos democraticamente, porém não se comenta por exemplo a recontagem dos votos que o então candidato Henrique Capriles ao governo da Venezuela solicitou e foi negado sob alegação que os EUA estavam querendo dar um golpe no governo de Nicolás Maduro, que muito estranhamente conta com o apoio absoluto da entidades Judiciárias do seu país. Isso lembra muitos países do oriente médio onde o modelo democrático não é o estabelecido.

4. Participação popular – Dilma destaca que em seu governo a participação popular aumentou. Realmente podemos ver isso no último mês de junho quando milhões saíram às ruas pedindo mudanças e somente após sentir-se ameaçado houve movimentação no governo para ensaiar alguma proposta de mudança, ainda que fracassada, vamos tratar desse no próximo tópico.

5. Governo Dilma entendeu rapidamente os recados das ruas – Segundo a presidente Dilma, o seu governo entendeu rapidamente os recados das ruas. Nesta fala podemos concluir que a presidente, ou age deliberadamente criando falsas verdades para se colocar como uma líder das reivindicações populares, ou então falta-lhe inteligência para compreender a situação atual do Brasil. O governo petista não só não entendeu o que estava se passando nas ruas, como também deu respostas inócuas, levantou discussões que em nada tinham a ver com os anseios das ruas, apenas questões que atendam aos seus interesses como uma reforma política.

Outro ponto que mostra a incapacidade deste governo lidar com situações básicas é que dos cinco pactos anunciados pela presidente em discursos claramente marqueteiros nenhum deles foi realmente levado em frente, como a reforma na saúde, que quer trazer médicos de todos os cantos, porém sem investimentos em infraestrutura, ou mesmo os investimentos em educação com os royalties de petróleo, que sequer existem hoje.

Enfim, o que podemos concluir a partir deste discurso da presidente é que como sempre existe apenas marketing mesclado com ignorância que nos faz ficar apreensivos com o futuro de nosso país. A única esperança que nos resta é que o gigante acorde novamente.

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Marcos dos Santos Farias é analista de logística, Campinas, SP