Por que revistas existem, abrem e fecham? Está aí uma questão que provavelmente já deve ter passado pela cabeça de quem se interessa minimamente por este universo. Interrogação, aliás, bastante oportuna nos tempos em que estamos vivenciando uma espécie de passaralho das revistas, com o fechamento de diferentes tipos de publicações.
No último mês, desde editoras grandes, como o Grupo Abril, até empresas de comunicação de menor porte anunciaram o “descontinuamento” (neologismo da moda) de alguns de seus títulos. Na Abril, revistas como Bravo!, Lola, Alfa e Gloss colocaram nas bancas de todo o país suas últimas edições, com direito a despedidas de editores e diretores de redação em redes sociais e protestos de leitores mais aguerridos, assim como de profissionais do mercado.
O fechamento da Bravo!, por exemplo, logo mobilizou reflexões sobre a importância do jornalismo cultural no Brasil e questionamentos sobre a real valorização e divulgação das artes versus garantia de consistentes verbas publicitárias. Outro fechamento que fez burburinho foi o da Gloss. Durante seis anos, a publicação, que nasceu com o slogan “a revista para os melhores anos da sua vida”, enfocou comportamento, beleza, moda e mercado de trabalho para mulheres recém-saídas da adolescência e parece que vai deixar grande número de leitoras saudosas pelos comentários repercutidos a partir da carta de despedida publicada pela diretora de redação no site e na página da revista numa rede social.
Que se inspire e se renove
Do universo de gigantes aos players independentes, a situação é ainda mais constrangedora. A Editora Mix Brasil, especializada em produtos editoriais direcionados ao público gay, anunciou o fim da H Magazine, publicação recente na história da editora que havia acabado de completar um ano e meio de circulação e enfocava o indivíduo homossexual com mais de 30 anos. Como meteoro, da euforia em que nasceu, desfez-se. O fim da revista empobrece ainda mais um segmento que já carece tanto de corajosos projetos editoriais.
Crise, insuficiente viabilidade econômica, esgotamento da fórmula editorial, concorrência da internet? As especulações são muitas para o fim dessas publicações, mas o fato é que seu fechamento entristece tanto leitores como qualquer profissional interessado no mercado de revistas no país. Os “descontinuamentos” deixam todos em estado de alerta, mas ainda não parece ser o momento de proclamar o fim do gênero revistas. A verdade é que publicações nascem e morrem todos os dias (algumas logo mesmo na concepção). Outras se reciclam no caminho e se mantêm.
Se é correto dizer que revistas, além de serem um espaço de experimentação e prática do ofício de saber contar boas histórias, estabelecem uma relação passional com seu público-alvo, resta torcer para que as publicações encerradas encontrem substitutas no imaginário de seus leitores. Quanto ao mercado editorial, que se inspire a cada dia e se renove.
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Fernando Barros é relações públicas