O editorial do jornal O Globo sobre o regime militar gera muitas perguntas para o próximo Observatório da Imprensa. Gostaria de colocar em discussão o uso do gênero informativo, ou da ideia de relato (seguindo o estudo do professor dr. Manuel Chaparro), no editorial do jornal O Globo. Quando o jornal escolhe colocar “supostamente” informações, que por acaso são a “versão oficial” da ditadura militar no corpo de um texto recente, sem contestá-las, estaria esse jornal realmente admitindo seus erros? Ou fazendo um jogo de retórica para esconder a culpa aos leitores mais “ingênuos”? Será que esses leitores ainda existem? A título de exemplo, três trechos são importantes: (trecho do editorial) “Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos – Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” – e de alguns segmentos das Forças Armadas. Na noite de 31 de março de 1964, por sinal, O Globo foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo almirante Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo editorial: “Ressurge a Democracia”. A situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros – cabo Anselmo à frente –, a hierarquia militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu” (fim dos trechos do editorial). O jornal apenas utiliza a suposta “neutralidade” do gênero informativo, mas acaba endossando informações para lá de errôneas. Por exemplo: 1. Não se contesta a informação falsa de que Goulart iria dar um “golpe”; 2. Ao dar a informação (verídica?) da invasão do jornal O Globo, indiretamente o jornal constrói uma “versão” que se apresenta como “prova” de que Goulart iria dar um golpe; 3. A informação inverídica de que Jango iria “atropelar as instituições democráticas” para fazer as reformas de base. Um editorial sobre os erros do jornal O Globo deveria fornecer informações verdadeiras sobre os fatos, não endossar as versões da ditadura, escritas como se fossem fatos. É interessante observar como o jornal não fornece nenhuma “opinião”/“informação” sobre o que foi a ditadura, tudo em nome do gênero informativo. Por que o jornal não comenta o papel de cabo Anselmo em auxiliar o golpe militar? Por que não traz “informações” aceitas por todos os historiadores sobre as reformas de base, sobre quantos a ditadura militar matou e torturou? Por que o jornal prefere trazer uma versão oficial ainda da época da ditadura em pleno 2013? É preciso cada vez mais transmitir aos leitores que disfarçado de gênero informativo, disfarçado de informação, muitas opiniões e visões de mundo, como essa, ainda continuam circulando. Até quando o gênero informativo vai ser desculpa para plantar opiniões como se fossem fatos? (Margarida Maria Adamatti, jornalista, São Paulo, SP)
Programa 'Mais Médicos'
Enquanto as atenções se voltam para atos impensados de médicos contrários à atuação de médicos estrangeiros sem serem submetidos à revalidação do diploma, os verdadeiros responsáveis pelo caos na Saúde no Brasil, os gestores corruptos, estão muito satisfeitos. Não terão sequer que prover as Unidades de Saúde sucateadas de infraestrutura mínima para receber os médicos estrangeiros, pois terão que fornecer como contrapartida apenas alimentação e moradia. E não serão os médicos, infelizmente funcionários de uma ditadura, que reivindicarão melhoria de condições de trabalho, por motivos óbvios. Enquanto isso, muitos brasileiros continuam recebendo atendimento em macas em corredores de Unidades de Saúde desprovidas de insumos básicos. Outro item importante a ser abordado é a existência de uma “indústria de formação de médicos”, com a suposta intenção de interiorizá-los; faculdades privadas de medicina têm sido abertas indiscriminadamente sem que tenham que se comprometer a criar hospitais-escola para os seus alunos. Com isso, alunos de faculdades privadas frequentam os Hospitais Públicos que, como todos já sabem, funcionam, em sua maioria, em condições caóticas, demonstradas em frequentes reportagens exibidas em todos os meios de comunicação. Deveríamos aproveitar a polêmica para desarmar essa bomba-relógio que está sendo armada, mudando definitivamente a gestão na Saúde. E não será com a criação de imposto específico para a área, como a CPMF, que se resolverá o problema, pois já experimentamos essa alternativa sem sucesso. É preciso que a imprensa aborde de maneira séria e técnica esse tema, pois, sem dúvida, todos nós, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, desempregados, empresários, somos usuários do Sistema Único de Saúde. Afinal, em caso de acidente, por exemplo, o Samu que fará o transporte e a Unidade de Saúde que fará o primeiro atendimento são pertencentes ao SUS, além de todos os programas de saúde pública que nos afetam diretamente. Cabe aqui também atenção para o desrespeito aos direitos humanos de muitos pacientes atendidos de forma inadequada, sem levar em consideração a preservação da sua dignidade (João Petrônio Abreu Pereira, médico, Palmas, TO)
Humor que humilha
Pelo menos dois comentários depreciativos e desnecessários sobre a aparência de Ribéry foram feitos na TV aberta por ocasião do anúncio de sua escolha como melhor jogador da Europa. Ambos no mesmo tom: o de que, por sua feiúra, assustaria criancinhas. Um foi no Globo Esporte, edição de São Paulo, do dia 30/8: “Se você quiser que seu filho coma tudinho, diga a ele que se não comer o Ribéry vai pegá-lo”, disse o apresentador Bruno Laurence. A outra “piada” foi no mesmo dia na Band, na transmissão do jogo Chelsea e Bayern: “Ribéry deve estar assustando as criancinhas de Praga”, comentou o narrador Théo José, no que foi bovina e alegremente reforçado por Mauro Beting. As tiradas me fizeram lembrar o poema de Fabrício Carpinejar, postado na edição online do Zero Hora, onde ele conta como sobreviveu ao bullying na escola. E me fizeram também interrogar de que adiantam os programas de conscientização da TV e esforço dos pais contra esse tipo de assédio, se não temos jornalistas que deem algum tipo de exemplo. Também andei irritada com o mau desempenho do Corinthians nos últimos jogos, mas nem por isso saí por aí insultando seus jogadores e detonando reputações. E olhe que nem sou comentarista bem-sucedida e queridinha da mídia, como é o caso do sr. Juca Kfouri, que no Linha de Passe de 26/08 chamou Ibson de “ameba” e Pato e Barrichello de “fraudes”. Kfouri é useiro e vezeiro desses expedientes (já chamou de “mentecapto” um assinante de cuja pergunta ele não gostou) e costuma, apesar de corintiano, ter sempre um pitaco para baixar a bola do time e manter a popularidade entre seus amigos anti-corintianos que grassam nas redações da ESPN e Folha-UOL. Foi por isso que ele criou o “Fracássio” para o goleiro que fez o que fez na Libertadores e Mundial do Japão. A classe jornalística é uma das mais vaidosas e maldosas que há. Com seus comentários pouco sensatos, Kfouri acaba por se inscrever nas duas categorias (Silvia Chiabai, jornalista)