Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Nanodicionário de termos e expressões indevidos, v.6

Foram usados incorretamente na Folha de S. Paulo:

>> “Assídua de”. O leitor desculpará esta incursão pelo insólito, mas é preciso também chamar a atenção para a criatividade no errar. Não se encontram apenas solecismos habituais na imprensa, com alguma frequência brotam pérolas como esta: “Diferentemente de seu colega [sic] Barack Obama com seu inseparável smartphone Blackberry, a presidente Dilma Rousseff não é assídua de gadgets (apetrechos eletrônicos)” (Folha de S. Paulo, 8/9, “Diferentemente de Obama, Dilma é avessa a e-mails”).

Sabe-se lá onde pretendiam chegar as autoras do texto, o fato é que produziram um despautério original, sancionado pelo distinto editor da página (A26). São duas aberrações. Primeira, o adjetivo está errado; assíduo é constante, frequente, regular. Vem do latim assiduus, derivado de assidere, “sentar-se perto de”. Refere-se a lugar, não a coisa. Segunda, a regência de “assíduo”, portanto, não se faz com a preposição “de”, faz-se com “em” (ou, menos usual, com “a”). “Assíduo na escola, no trabalho”, etc.

>> Ir à tona. Nem é preciso mudar de página, apenas de reportagem, para encontrar mais preciosidades. Em “Brasil terá satélites vigiados por firma franco-americana”, lê-se: “Técnicos da agência defendem que o plano para essa contratação já estava previsto desde 2011, antes de ir à tona a polêmica sobre espionagem americana (…)”. Antigamente, quando vivíamos emersos, as coisas vinham à tona. Agora, começam a “ir à tona”. Talvez estejamos submersos e não o saibamos.

 

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