Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um aplicativo onde a gente é mais feliz

O aplicativo Instagram, desenvolvido pelo brasileiro Mike Krieger e o norte-americano Kevin Systrom, foi lançado em outubro de 2010 e tornou-se um fenômeno mundial da fotografia digital. Associado ao sucesso dos smartphones, o aplicativo que faz fotos em formato quadrado [4:3] e filtros com cores e sombras conquistou os dedinhos nervosos de gente de diversas faixas etárias.

Como as mídias estão cada vez mais convergentes, o Instagram, que além de aplicativo também é uma rede social, foi vinculado a outras redes sociais dadas as negociações milionárias de empresas de tecnologia da informação. Não precisa muita análise para notar o sucesso imenso do aplicativo entre seus usuários, que se preocupam diariamente com o ineditismo de suas publicações. É nosso papel, portanto, como formadores de opinião e responsáveis pela produção de conteúdo na sociedade, entender ou buscar refletir sobre a prática da produção de informações lançadas, sem pudor, aos nossos olhos. O que andamos publicando no Instagram?

Por se tratar de fotografia, o senso comum tende a crer fielmente em seu conteúdo, tal como postulou Philippe Dubois em O Ato Fotográfico: […] a fotografia, pelo menos aos olhos da doxa e do senso comum, não pode mentir. Nela a necessidade de ver para crer é satisfeita. A foto é percebida como uma espécie de prova, ao mesmo tempo necessária e suficiente, que atesta indubitavelmente sobre aquilo que mostra.

Do lado de cá é diferente

Esta crença desconsidera, portanto, o olhar do indivíduo que tomou aquele instante, aquela imagem, negando as suas influências ideológicas e representações sociais. Até que ponto é possível acreditar no que vemos no Instagram? A possibilidade de mudar cores, omitir elementos com sombra e falta de foco não alteraria o que o espectador poderia depreender da imagem? Tudo postula uma vontade de representar algo apresentando um registro fotográfico e instantâneo. Aliás, a instantaneidade do serviço é um dos fatores que mais atrai os usuários. Poder registrar um momento e publicar no mesmo instante para o mundo inteiro ver é realmente fascinante.

Fotos [principalmente] de comida, animais de estimação, frases de autoajuda e destaques de moda configuram a lista dos assuntos mais fotografados. O que estariam querendo dizer estas pessoas? Seguindo a ideia de Arthur Schopenhauer, o mundo por um lado é representação e por outro é vontade. Caberia então dizer que os usuários do Instagram são regidos por essa tese, a qual explicaria o fato de não encontrarmos tão facilmente imagens de assuntos negativos ou que não despertem vontade em quem os vê. Em outras palavras, o que se quer com o Instagram é dizer “eu tenho, você não” “eu sou, você não” “eu posso, você não” despertando no outro a “vontade” que Schopenhauer diria ser o princípio norteador da vida humana.

A vontade de ser importante, a vontade de ser popular, de ter mais seguidores, mais curtidas, tudo isto num lapso irracional, uma vez que a vontade parte da irracionalidade e que esta é responsável pela infelicidade, por conta de uma tentativa eterna de suprir esta vontade. Talvez seja muita filosofia para um aplicativo de 16 megabytes. No entanto, pode elucidar um pouco as ações que não têm muito sentido como a publicação da foto de um prato com comida [e eu já fiz isto, mas não me pergunte o porquê. Não saberia responder]. Seria, portanto, a verdadeira legenda para a foto citada: “Estou comendo isto, você não! Gostaria de comer também?”

O que penso é que somos mais felizes no Instagram. Sempre comemos o que há de melhor, vamos aos melhores lugares, vestimos as melhores roupas e fazemos questão de anunciar aos nossos seguidores. No Instagram somos mais poéticos, românticos e nos importamos em ajudar os outros com frases de autoajuda, o que parece bem controverso. Enfim, somos aqueles que podemos ser conhecidos através de uma rápida olhada na conta do Instagram. Lá é onde [aparentemente] somos felizes para sempre. Isto pode ser ótimo e pode também nos convencer desta felicidade porque, pensando bem, do lado de cá é um pouco diferente.

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Philipe Costa Monção é bacharel em Comunicação Social Rádio e TV