Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Day after’ tupiniquim

O clima de festa esperado se frustrou. Em seu lugar um desalento tomou conta dos militantes do sofá. Eles não são mais do que isso. Basta ver que em frente ao STF, na quarta-feira (18/09) somente apareceram 28 gatos-pingados, segundo informe na imprensa. Até a ferocidade comum deu lugar a um envio de mensagens com o clichê mais do que manjado, onde o parnasiano e vetusto Ruy Barbosa assevera “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Foram vários os que recorreram a esta mensagem edificante que soa, neste contexto, como o “canto do cisne” a representar a queda do último bastião moral da sociedade.

O interessante é que, na contramão deste chororô, a chamada grande mídia, que parece ter absorvido o impacto, encarou o fato com frieza calculista, antevendo nele, como supõe Paulo Amorim no seu artigo (ver aqui), benefícios futuros para si e seus apaniguados. Sob esta lógica, a tese do domínio do fato, do alemão Claus Roxin, renderá a ela (mídia) e aos seus proteção ao que porventura possa vir pela frente com um Supremo Tribunal Federal e um Ministério Público com nova composição, menos afeita ao seu “canto de sereia”.

A verdade é que não foi pouca coisa o ocorrido. Atingiu os alicerces do único discurso eficaz da grande mídia. É um discurso com longa ficha de serviços prestados à direita no país. Basta lembrar de todas as crises institucionais ocorridas desde 1950 e o protagonismo do discurso contra a corrupção feito, em especial, pela chamada banda de música da UDN, onde despontou Carlos Lacerda, jornalista e político talentoso. A diferença é que na impossibilidade de reencarnação de Carlos Lacerda o jeito é se valer do kit de conceitos e preconceitos criado pelo Consenso de Washington.

Proporção maior

Um discurso que se retroalimenta graças a um modelo econômico-político fundado no financiamento privado de campanhas eleitorais e por isso fadado a reproduzir escândalo atrás de escândalo ad infinitum. A razão é simples: fazer campanha eleitoral é caro. Logo, faz- se necessário recorrer a fontes de recursos que lá adiante cobrarão, de forma republicana ou não, esta participação a favor de seus interesses. As honrosas exceções mais confirmam a regra.

O fato novo no horizonte é uma guinada na estratégia discursiva da grande mídia. Como deu chabu no discurso contra a corrupção que agora pode se voltar contra os que até 18/09/13 o defendiam pelas razões expostas acima, e como é perigoso posar de pró-EUA de modo tão explícito no caso da espionagem, restou o retorno ao discurso neoliberal pra lá de manjado e meio baleado da economia. O pontapé inicial foi dado pela revista The Economist, com a “patriótica” contribuição do Deep Throat Pedro Malan, a ser verdade a denúncia de Maria da Conceição Tavares (ver aqui). Os sinais deste retorno são claros. Carlos Alberto Sardenberg, comentarista do Jornal da Globo, endossou no programa de 26/09/2013 todas as teses levantadas pela revista e nenhum comentário sobre o fato de que os europeus enfrentam uma crise mais aguda, justamente por adotarem este receituário ideológico, e nós, brasileiros, somente estamos em melhores condições por não termos seguidos à risca estes preceitos. Se tivéssemos seguido sob a égide dos tucanos que se reuniam na Casa das Garças (os banqueiros André Lara Resende, Edmar Bacha, Pérsio Arida, Armínio Fraga e Pedro Moreira Salles), estaríamos, suponho, em uma crise de proporção maior, lamentando, por exemplo, a descoberta do pré-sal que somente beneficiaria o grande capital internacional.

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Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS