Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um país do avesso

Na noite do dia 18/10, ativistas entraram no Instituto Royal e resgataram 178 cachorros da raça beagle que, segundo denúncias, estavam sofrendo maus-tratos. A ação ocorreu sob o olhar de policiais militares. No dia seguinte, o programa Manhã da Globo SP, transmitido pela rádio Globo (AM) e comandado pelo radialista Laércio Maciel, transmitiu a seguinte notícia: “Ativistas invadem Instituto Royal e furtam animais”. Em dado momento, o programa informou que havia a suspeita desses bichos estarem sofrendo maus-tratos. Contudo, em momento algum o ouvinte recebeu a informação de que a Polícia Militar estava no local quando a ação ocorreu. O programa sequer mencionou que antes de adentrarem a propriedade particular os ativistas estavam acampados há mais de uma semana em frente ao portão dessa empresa.

A matéria do programa Fantástico, da Rede Globo, exibida no dia 20 seguiu os mesmos moldes. A gerente e o diretor científico do Instituto Royal apresentaram todos os argumentos de defesa da empresa, porém, nenhum ativista, envolvido na organização desse resgate, foi consultado. Eles apenas inseriram o depoimento de uma mulher – cuja identidade não foi revelada – que participou do ato e ficou com um dos animais.

A matéria claramente tomou partido, visto que apresentou apenas um lado da moeda. A falta de um ativista deixou os telespectadores sem entenderem o motivo pelo qual a invasão aconteceu. Quais foram os fatores que levaram os protetores dos animais tomarem tão decisão que, de certa forma, descumpriu as leis do país. Consequentemente, os ativistas ficaram com a imagem de vândalos e/ou anarquistas que quebram normas apenas por bel-prazer.

Armas de alto calibre para protestos

Ao apresentar informações fragmentadas, esses veículos privam o cidadão de refletir sobre o acontecimento, pois ele não consegue confrontar as justificativas dos dois lados envolvidos, sendo assim, ele é impedido de criar uma ideia própria e impelido a seguir a opinião da massa. O “pensar”, que é um direito de todo ser-humano, é usurpado, já que ao invés de informarem, essas matérias apresentam e defendem pontos de vista. E, ainda, impedem que o outro lado da questão tenha voz.

E assim, na nação verde e amarela, professores que fazem greve e ativistas que resgatam animais são vistos como marginais e políticos corruptos como cidadãos comuns. Prova disso é que recentemente a Polícia Militar de São Paulo solicitou 50 fuzis e 200 armas de alto calibre à Secretaria de Segurança e os protestos, que ocorreram nas ruas em junho, foram uma das justificativas para essa rogação.

******

Flavia Arcanjo é jornalista