Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O crepúsculo do 4º poder

Não podemos mais negar, caros colegas de redação. Nosso trabalho está fadado ao completo fracasso. A essa altura do jogo, já está mais do que claro que, em determinado ponto dessa honrosa jornada, nos desviamos da promessa sagrada de noticiar o que a população precisa saber. Ao invés disso, escolhemos escancarar casos sanguinolentos que, verdade seja dita, precisam ser registrados, mas nem de longe merecem toda a luz que recebem atualmente. Como sempre acontece, ao escolher “visualizações” e “volume de compra”, os jornais cavaram sua cova. A mina está secando. A morte se transformou em uma mercadoria banal, algo que ainda chama atenção dos mais idosos, mas não desperta interesse nas almas mais jovens, acostumadas desde o berço a topar com periódicos recheados de hemoglobina. Isso não interessa mais. Isso não é novo. São histórias tristes, mas passam longe de serem relevantes para a grande maioria das pessoas.

Os veículos de comunicação precisam aprender com as manifestações. As pessoas estão cansadas das velhas mentiras proferidas pelos políticos e também das velhas reportagens que potencializam a mesma ladainha, como se nós não soubéssemos que aquelas palavras, mesmo que cravadas em tinta, serão esquecidas. Claro, vez ou outra topamos com reportagens que honram o jornalismo, lembretes de uma força há muito esquecida e um tanto quanto menosprezada pelo público que, com razão, não vê motivos para confiar e acompanhar tudo o que a imprensa produz. A ira popular de junho não apenas destruiu patrimônios públicos e afins, como também acabou ferindo jornalistas. Logicamente, nossa primeira reação é de repúdio. Mas o que essas agressões representam? Por que nossa linhagem entrou na rota de destruição popular se, em tese, nós trabalhamos para eles? Será que ignoramos essa promessa para correr em busca de interesses pessoais?

Por interesses pessoais não digo apenas os dos patrões, mas também os dos repórteres que, influenciados por esse ambiente fétido e distorcido, buscam desesperadamente uma manchete. Logo, esse círculo se completa e mostra que redações de todo o planeta estão infestadas com uma mentalidade que passa longe do “informar” jornalístico. Estamos blindados do público, presos em uma outra realidade, um mundo criado por releases e e-mails patronais. As pessoas deixaram de ser fontes e, pior ainda, deixaram de ser o alvo.

Qual a solução? Começar uma revolução ou deixar o destino fazer seu trabalho e ver aonde tudo isso vai terminar?

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Paulo Ricardo Martins é repórter, Franca, SP