Em 13 de novembro, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, criticou na TV a capa do jornal econômico El Mundo que, usando dados do Banco Central, fazia um trocadilho entre a queda de preços ordenada pelo mandatário e a queda nas reservas internacionais. O diretor do jornal, Omar Lugo, foi informado que poderia ser demitido, o que ocorreu três dias depois. A demissão de Lugo foi o marco da guinada do grupo Cadena Capriles – que, além do El Mundo, é dono do jornal popular mais vendido, o Últimas Notícias. O conglomerado é de parentes distantes de Henrique Capriles, líder da oposição.
Os jornais do grupo, especialmente o Últimas Noticias, mantinham sob o chavismo um comportamento moderado para os padrões da polarizada mídia local. A situação mudou em outubro, quando o Cadena Capriles foi vendido a uma multinacional – o dinheiro vem do banqueiro Victor Vargas, próximo do chavismo. “Quando o jornal mudou de dono, já tinha recebido a orientação de me comportar melhor com o governo. Uma forma de o governo ter controle sobre a mídia independente é usar pessoas com poder econômico para comprá-los”, disse Lugo.
Além da demissão de Lugo, pela qual os funcionários dos três jornais realizaram uma assembleia no mês passado, outro elemento causa mal-estar na redação. A deputada chavista e jornalista Desireé Santos Amaral, nomeada “conselheira editorial” do Últimas Notícias, tem mesa na redação e participa diariamente das reuniões decisórias.
Segundo a Folha apurou com jornalistas do Últimas Noticias, há agora regras não escritas, como evitar algumas perguntas a ministros ou só publicar reportagem crítica se conseguir a versão de um porta-voz do governo.
Sete programas de rádio chavistas saíram do ar
O cerco à imprensa não se atém só à mídia privada. A rede estatal também perdeu apresentadores de rádio considerados chavistas críticos.
“Só no meu entorno, sete programas de rádio de chavistas críticos saíram do ar depois da chegada de Maduro”, disse à Folha o cientista político esquerdista Heiber Barreto, que coapresenta um programa no site de debates Aporrea, ligado ao chavismo.
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Flávia Marreiro, da Folha de S.Paulo, em Caracas