Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A causa da liberdade

Há um mês, a convite do Instituto de Referência da Imagem e do Som, de Fortaleza, doze biógrafos foram falar de seu ofício na capital cearense. Durante quatro dias, em lonas lotadas por um público atilado e vibrante, discutimos métodos de trabalho, a análise de cada partícula de informação, o que usar e o que deixar de fora, o respeito ao anonimato das fontes e outros prazeres e agruras do gênero.

Pela expressão dos rostos, via-se que a plateia se admirava com a complexidade da preparação de uma biografia e com a descoberta de que nenhum biografado existe no vazio. Está cercado de pessoas próximas, estas, por sua vez, remetendo a outras, e todas, compondo o mosaico de uma cidade, um país, uma época. A fazer da biografia – o levantamento de uma vida – um ramal personalizado da ciência maior, que é a história.

Por ter sido planejado em julho, foi por acaso – um feliz acaso – que o congresso se deu simultaneamente à luta em defesa das biografias não autorizadas e contra a sanha censória desencadeada por alguns artistas comandados por Roberto Carlos. Falou-se muito do assunto nos debates. E, pela amostra da plateia cearense, pode-se dizer que a opinião pública optou esmagadoramente pela liberdade de expressão.

A causa da liberdade

Ao fim dos trabalhos, produziu-se um documento, a “Carta de Fortaleza”, alertando para o fato de que essa luta não é só dos biógrafos. Interessa também aos historiadores, documentaristas, ensaístas, pesquisadores, jornalistas – e aos brasileiros em geral, cujo acesso à história precisa ser sagrado.

Um dos nossos sugeriu brincando que, se os inimigos das biografias independentes – Roberto Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil, José Sarney, Paulo Maluf e outros – fizessem um congresso próprio para defender suas ideias, a causa da liberdade venceria mais depressa.

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Ruy Castro é escritor e colunista da Folha de S.Paulo