Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A esperança são as mulheres

Uma forte esperança dos brasileiros com relação à política está nas mulheres. Pelo menos é o que se conclui do resultado de uma pesquisa divulgada pela imprensa no (12/1). A pesquisa, realizada pelo Ibope, revela que “41% dos brasileiros acreditam que o mundo seria um lugar melhor se as mulheres fossem maioria no mundo político. Essa proporção é quatro vezes maior do que os que acham o contrário – ou seja, que seria pior caso houvesse maior participação do sexo feminino (9%). A média brasileira é maior que a de todos os 65 países participantes da pesquisa do WIN (34%)”.

A pesquisa revela também que o grau de esperança – e otimismo – varia de acordo com o perfil dos entrevistados. Apenas 33% dos homens concordam que o mundo seria melhor se as mulheres tivessem mais poder. O que não chega a surpreender. Surpreendente mesmo é descobrir que apenas 48% das mulheres acreditam que o predomínio feminino faria a diferença. Segundo a pesquisa, “pessoas de maior renda e escolaridade também tendem a ser mais céticas e a achar que tudo seria igual nesse cenário (54% entre os que têm curso superior ou os que ganham mais de 10 salários mínimos por mês)”.

Representação nos parlamentos

O que não ficou claro é se os entrevistados realmente acreditam que as mulheres são mais honestas do que os homens ou isso é uma ilusão provocada pelo fato de que elas são minoria no Congresso Nacional e nos cargos executivos. Ao analisar a atitude de mulheres poderosas, como, por exemplo, Roseana Sarney, com suas encomendas milionárias e as afirmações de não há oligarquia no Maranhão, ficamos na dúvida se existe mesmo diferença nos políticos devido ao gênero.

O caso do mensalão, por exemplo, pode dar esperanças aos eleitores, já que entre os condenados só havia duas mulheres, e assim mesmo mulheres sem cargo eletivo. Um delas era presidente do Banco Rural, usado para as transferências de dinheiro. A outra, funcionária do publicitário Marcos Valério. Ficamos sem saber se as deputadas são mesmo mais honestas do que os colegas homens ou se até na hora da corrupção elas são discriminadas.

Para saber se as mulheres são realmente melhores que os homens, seria preciso haver muito, mas muito mais mulheres atuando no campo político. Como revela o jornal Estado de S.Paulo sobre os resultados da pesquisa:

“Apesar da eleição da presidente Dilma Rousseff em 2010, a primeira mulher a governar o País desde a Proclamação da República, o gênero feminino ainda é sub-representado na maioria dos cargos elegíveis brasileiros. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, em 2010 foram eleitas apenas 45 mulheres para as 513 cadeiras disputadas – ou seja, 8,7% do total. Essa é uma das taxas mais baixas do mundo – o Brasil está em 119.º entre os 146 países analisados pela União Interparlamentar (IPU). Nas prefeituras, a proporção é um pouco maior: 12% são comandadas por mulheres, um recorde histórico, mas longe de representar a composição feminina na população adulta brasileira, de 53%”.

A pesquisa do Ibope mostrou ainda que a proporção de brasileiros que gostaria que houvesse mais mulheres na política é igual a dos países com a maior taxa de representação feminina nos parlamentos: na África do Sul e na Suécia (terceira e quarta colocadas no ranking), 55% e 48%, respectivamente, acham que o mundo seria melhor se as mulheres fossem maioria do poder.

O que faz a diferença

Vamos esperar que essa pesquisa seja lida atentamente pelos líderes dos partidos políticos e que eles levem mais a sério a lei que determina que 30% das vagas para candidaturas (tanto ao Executivo como aos cargos legislativos) sejam destinadas às mulheres. Além de dar lugar na disputa, os partidos precisam reservar verbas e espaço para a campanha das mulheres. Caso contrário, tudo vai continuar como é hoje: as candidaturas femininas são aceitas só para cumprir a tabela e a proporção de mulheres no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas continua insignificante.

Podemos ter a presidente da República disputando a reeleição, podemos ter Marina Silva fazendo oposição e trazendo votos para seu colega de partido (embora ela tenha tido uma votação extraordinária na sua primeira candidatura), mas a verdade é que vamos continuar tendo mulheres em cargo de comando apenas se, como no caso atual, elas tiverem um padrinho muito forte.

Aos eleitores resta apenas a esperança de que se as mulheres estivessem no poder as coisas poderiam ser diferentes.

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Ligia Martins de Almeida é jornalista