Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo tenta tapar o sol com a peneira

O governo Dilma Rousseff (PT) não conseguiu ocultar o fiasco da recessão econômica em que país ingressou em 2013 com um crescimento de apenas 2,5% e o pífio 1,9% previstos para este ano. Agora tenta tapar o sol com a peneira para desvincular a onda de criminalidade que varre o país da falta absoluta de uma política pública de controle da violência. O caso mais ostensivo da incompetência governamental para encarar a violência é o da penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, há mais de quatro anos dominado por quadrilhas que comandam o crime de dentro da cadeia, a exemplo do que acontece em outros estados, como São Paulo.

Assessores próximos à presidenta têm anunciado em Brasília que, no caso do Maranhão, ela não tomou nenhuma providência “para não se desentender com a governadora Roseane e o pai, senador José Sarney”, seus aliados políticos.

O fato é que a presidenta Dilma Rousseff chega ao último ano da sua administração de mãos atadas ao PT. Indicou o ex-presidente Lula, o vice-presidente Michel Temer e Jackson Wagner, governador da Bahia, para o “comando supremo” da sua campanha eleitoral, e deu o primeiro grande tropeço da temporada: orientou e o PT desferiu na semana passada o primeiro ataque ao candidato a presidente da República do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. As críticas, sem nenhum fundamento, foram repudiadas por milhares de eleitores e simpatizantes de Campos através das redes sociais. Era tudo que ele precisava para avançar na sua caminhada rumo ao Planalto, reagiram os campistas.

Degola com lagostas

O caso de Pedrinhas obrigou a presidenta a jogar a tolha sem hesitar. E trouxe à tona uma realidade inexorável: como conciliar um Estado moderno como ela almeja para o Brasil com pedaços do país, como o Maranhão, onde o exercício do poder é comandado por uma monarquia? As contradições políticas ensejadas por essa realidade espatifam a imagem da presidenta no exterior e a escravizam no próprio país no momento em que a autoestima dela deveria está consolidada politicamente para encarar a Copa do Mundo.

O desejo de reeleger-se está se sobrepondo a nuances da própria personalidade da presidenta. São atalhos perigosos. Os caminhos de um estadista não podem nem devem ser tortuosos. As pessoas não escolhem espontaneamente seus líderes por omissões, propostas tortuosas ou riscos calculados. No Brasil nona potência mundial, já não cabem gestos e atitudes monárquicas, como decapitações e sessões de horror. O nivelamento da sociedade brasileira por baixo, como se fez com o Maranhão, a partir de quando milhões de contribuintes ficaram arrasados como destino que o governo faz da sua contribuição, consolidou a certeza de milhares de turistas de que, para além da Copa, o Brasil é o cenário perfeito para o exotismo.

Centenas de turistas exóticos vêm à Copa, mas já incluíram São Luís no roteiro: querem assistir ao vivo sessões de degola de presos em Pedrinhas. Se possível, degustando as lagostas adquiridas por Roseane Sarney para abastecer seus convivas em palácio.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor