Atualmente, um dos assuntos mais discutidos em torno da cultura pós-moderna é o excesso de exposição, tanto na mídia tradicional quanto na internet. Fotos íntimas de celebridades, flagras e vídeos sempre foram um “prato cheio” para jornais, revistas e programas especializados em fofoca. No entanto, hoje, com a expansão das chamadas “máquinas da visão”, não é preciso ser famoso para estar exposto: basta ter um celular, um clique, seguidores e internet.
Se, na mitologia grega, o Monte Olimpo era a morada dos deuses, sob a perspectiva de Morin (1969) podemos dizer que a imprensa é uma das responsáveis pela criação dos novos olimpianos: celebridades, cantores, jogadores de futebol, atores de cinema são considerados semideuses, deuses e até heróis haja em vista o culto ao corpo, as roupas, aos cortes de cabelo, aos relacionamentos passageiros dentre outros comportamentos das quais os pobres mortais têm tendência em seguir. Contudo, ao fazermos um paralelo entre as afirmações de Morin na qual tinha a imprensa tradicional como fomentadora dos novos olimpianos, hoje podemos considerar as interações do ciberespaço um palco para exibição dos indivíduos comuns. Um bom modelo disso são os selfies.
A arte de se autofotografar ou selfie tornou-se a palavra do ano de 2013, sendo oficialmente incluída no dicionário de Oxford. Famosos e não famosos tem nas mãos o poder de se exibirem na tela do computador ou do smartphone. Exposições exageradas, polêmicas autorizadas ou não são cada vez mais plurais na rede. Não é difícil vermos pessoas comuns se transfigurarem em famosos, alguns exemplos são os cantores Justin Bieber e Mallu Magalhães, além da blogueira Mari Moon que virou apresentadora na televisão.
Um território inexplorado
Se para alguns a internet abriu portas para vida profissional, para outros a vida privada virou um inferno tanto para os famosos como pessoas comuns. Casos como o da modelo Daniella Cicarelli que teve um vídeo íntimo postado no YouTubee da atriz Carolina Dickmann com suas fotos nuas são alguns exemplos que eclodiram na mídia e foram parar nos tribunais. Recentemente o suicídio da jovem Júlia Rebeca colocou em debate o excesso de exposição, a invasão de privacidade e principalmente a falta de leis específicas para quem sofre esse tipo de assédio. Em torno desses e outros casos fica a pergunta será que as pessoas tem consciência do que estão postando?
Para alguns autores mais críticos a internet tem exercido um papel importante na criação de novas identidades e aberto novas possibilidades em vários campos da sociedade, no entanto, é preciso ter moderação. Na visão de Zigmunt Bauman, por exemplo, “o advento da instantaneidade conduz a cultura e a ética humana a um território não preparado e inexplorado, onde a maioria dos hábitos aprendidos para lidar com os prazeres da vida perdeu sua utilidade e sentido”. Talvez isso signifique dizer que apesar de termos essas tecnologias em nossas mãos ainda não estamos maduros o suficiente para tirar o melhor proveito delas.
******
Luana Santana é jornalista, São Paulo, SP