Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que não pode ser debatido numa democracia?

Tipos de jornalismo é o que não faltam, pauta para apurar, fontes para desvendar, caminhos a percorrer e nunca não ter o que fazer. Sabemos que, quem escolhe o jornalismo, o faz por amor, por acreditar na verdade e num mundo mais digno. Sempre penso em jornalistas como seres estupendos, inteligentes, descolados e sem pudores para tratar de qualquer assunto sem papas na língua. Qualquer assunto? Nem sempre.

O jornalismo é tabulado como “seriedade”, dinamismo, coerência e precisão. Sair do eixo significa sair do senso comum, do que se espera, da mesmice. Me interesso por política, nem tanto por economia, passo longe da possibilidade de ser repórter. Tenho personalidade forte e gosto de escrever sobre o que me interessa. Posso até saber escrever sobre flores, mas não gosto.

O dever do jornalista é trazer ao público assuntos que passam longe da realidade em que define a população. Hoje em dia, as matérias que passam no Jornal Nacional, um dos mais repercutidos dentre a mídia pública, por exemplo, são de interesse público, mas não trazem questões que façam a maioria discutir e realmente se preocupar. As matérias são vistas como “mais um acidente” ou “mais um político corrupto”. As questões passam batido e o interesse pela real manifestação dos fatos se oculta diante da falta de interesse jornalístico em levar além da informação, a vontade de discussão. Fazer o povo pensar, discordar, questionar, ir atrás de respostas. Trazer interesse a assuntos que são publicados sem a ênfase esperada já que a maioria se interessa pelo que vem depois, a novela.

Sem medo e sem pudor

Temos o poder de levar conhecimento a população, temos esse dever, mas quando fala-se em direitos, bom, não se fala. Acatamos o que nossos superiores mandam e acabamos por tomar partido, por vezes opostos pela “necessidade”.

E quem disse que ter opinião seria fácil? Ter razão, nos torna antipáticos. Sabe-se que a mídia é manipulável e por muitas vezes a imprensa é comprada. Tempos difíceis em que se acredita num jornalismo que pode não existir mais, afinal todos temos contas pra pagar. Se o povo começa a pensar, parece que incomoda alguém.

O que quero dizer com todo esse blablablá é que hoje tudo é muito sério, muito chato, e nada disso me interessa. Escolhi o jornalismo, não sei por que, sempre tive a certeza de que esta era minha profissão, desde sempre. E meu amor não está em apenas levar notícia ao público. Está em trazer discussões, dividir tudo o que sei com os que não tiveram a mesma oportunidade.

Por vezes esquecemos que existem pessoas tão miseráveis que não sabem compreender a diferença de certos partidos políticos, por exemplo, e votam no que pagou mais na boca de urna. É esse tipo de situação que me traz a vontade de revolucionar, de trazer de volta aquele jornalismo alternativo dos Pasquins, o jeito moleque de mostrar a verdade fazendo rir, descontraindo pra educar. Hoje em dia, dizer a verdade não diverte e a maioria gostaria de ler o que queremos escrever, mas os donos da indústria da mídia preferem os robôs da monotonia e a culpa é do lucro.

Alguns ainda não conseguem distinguir o que é um texto jornalístico, e um artigo opinativo. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra e quando se publica um texto sobre algum tema “polêmico”, subestimam sua inteligência dizendo que o texto tem “muita opinião”. O que me interessa é levar a realidade ao público e fazê-lo pensar.

Afinal, quem está errado? Isso não existe. Tudo o que nos mandam, achamos uma beleza. Aprender a dizer não e pensar um pouco sem aflição. Temos medo de quê? São as narrativas independentes que me interessam, o jornalismo com ação, são aqueles que gritam suas frases querendo apenas “inteligenciar” os demais. Sem medo, sem pudor, sem vender o que se pensa por valor.

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Gabriela Peres é jornalista, Hortolândia, SP