Na década de 1970, o economista Carlos Geraldo Langoni, então diretor do Ibre-Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, avalisou e transformou num livro uma tese então surpreendente: o Brasil estava estruturalmente preparado para ter uma economia social de mercado. Mas, 40 anos depois, a tese se esfarelou: desmontou-se a estrutura de economia estatal de mercado para uma economia bolsa-mercado. Com um agravante: se a infração galopar como na década de 1970,sobra a economia de poupança privada, com o estado politicamente fragilizado para administrar o caos.
Com um aditivo perigoso, como a criminalidade crescente, 2014 será o ano em que, para o bem ou para o mal, o Brasil será o protagonista da sua vitória na Copa com uma economia e política confusas para ensombrear-lhe o cenário ou assumir o papel de alanvacador da economia global, se conseguirmos a vitória na competição mundial ao lado de um crescimento econômico que nos devolva a uma taxa média do anos 80 com 6% ao ano com inflação sob total controle.
O Brasil está diante de grandes possibilidades para vencer todos os entraves de crescimento. Você pode até se surpreender com essa assertiva se se der ao trabalho de coletar todos os meus artigos e matérias assinadas na década de 1970 na Folha de S.Paulo, onde predominava o pessimismo influenciado pela inflação galopante.
Mecanismo perverso
O Plano Real do governo FHC foi o golpe fatal na inflação. Mas, ao invés de se magnificar esse golpe, com a criação de mecanismos de autosustentabilidade econômica e social, com uma sistemática autogeração de renda, deu-se o peixe mas não se ensinou a pescar. Sem uma noção embasada de gestão macroeconômica, sem se conhecer em profundidade as nuances da economia de Keynes, estimulou-se de tal forma o consumo para justificar o nascimento de uma “população afluente” e apontá-la falsamente como uma nova “classe média”. O troféu contraditório: qual a vantagem de o Brasil ser hoje a terceira economia a mais gastar nos EUA? Por que o papel não é inverso? Porque o Brasil nada produz que atraia os americanos.
Veja o perigo: uma taxa de inflação crescentemente alta desbanca qualquer programa Bolsa família da vida. Ou seja, uma taxa mensal de inflação na média dos anos 1970,de 70 a 90 % significa que R$ 70,00 mal dá para comprar 10 pãezinhos.
Por que o governo do PT não combinou mecanismos de geração de ocupação profissional como a condição para a concessão de bolsas? Ganhar sem trabalhar acabou se convertendo num atalho a criminalidade. Por isso, centenas de crianças bancadas pelas bolsas integram a corrente do tráfico de drogas dentro das escolas da rede pública.
Vítimas: as próprias, os pais, professores e o Estado. Você vai responder com propriedade: as bolsas não foram criadas para isso. Mas acabaram se convertendo num mecanismo perverso, sem haver paralelamente uma política estatal para assegurar-lhe o futuro.
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Reinaldo Cabral é jornalista