O diretor e ator Woody Allen publicou, no website do New York Times, sua resposta à acusação de abuso sexual feita por sua filha adotiva Dylan Farrow, no dia 1º de fevereiro, através do blog do colunista Nicholas Kristof, do mesmo jornal. A versão de Allen, publicada na sexta feira à noite, vai sair na edição impressa do jornal no domingo.
No texto, o diretor lembra que, quando foi acusado de molestar Dylan Farrow, então, com 7 anos, em 1993, num pequeno sótão da casa da ex-namorada Mia Farrow em Connecticut, não pensou duas vezes porque, tendo certeza de sua inocência, concluiu que a verdade ia prevalecer. “Nem contratei advogado para me defender,” afirma Allen, “foi meu advogado civil que me avisou que ela ia levar a acusação à polícia e eu ia precisar de um advogado criminalista.”
O diretor diz que, nos 12 anos do namoro com Mia Farrow, ela nunca havia sugerido nada que se assemelhasse a um mau comportamento e, afinal, lembra, era um homem de 56 anos sobre quem nunca havia pesado suspeita de abusar de uma criança. Allen diz que a situação da casa em Connecticut, no dia 4 de agosto de 1992, onde foi visitar as crianças, era o “território inimigo” em plena separação e cheio de testemunhas de modo que a “falta de lógica” lhe pareceu um cenário convincente o bastante para confirmar sua inocência.
Allen acusa Mia Farrow de, depois de ter levado Dylan ao médico e não ter conseguido obter da menina uma confirmação do abuso, saiu com Dylan para tomar sorvete e, quando voltou, a filha tinha mudado sua versão do suposto incidente. Allen lembra que se ofereceu e passou por um teste de detector de mentiras, algo que Mia Farrow se recusou a fazer.
Allen cita uma entrevista, concedida na última segunda-feira à CNN por sua ex-namorada Stacey Nelkin, em que ela conta que foi procurada por representantes de Mia Farrow para prestar falso testemunho na disputa sobre a custódia de três crianças, dois filhos adotivos, Dylan e Moses e um filho biológico, Satchel, hoje conhecido como Ronan Farrow. Nelkin tinha 17 anos quando namorou Allen, que tinha 42 e afirma que Mia Farrow pediu a ela para dizer que tinha apenas 15 anos, ou seja, era menor de idade pela lei americana.
Palavra final
O diretor transcreve trechos da extensa investigação policial concluída em 1993, em que psicólogos da clínica especializada em abuso sexual do hospital do Yale-New Haven Hospital afirmam que Dylan não foi molestada pelo pai. Allen admite que sua relação com a filha adotiva de Mia Farrow, Soon-Yi Previn causou enorme decepção ao público mas alega que, a despeito da impropriedade aparente, os dois estão casados há 16 anos e criam duas filhas adotivas. E lembra que, depois da acusação feita por Mia Farrow, o processo de adoção das duas filhas foi feito com rigor especial pelas autoridades nova-iorquinas.
O diretor diz que ficou com o coração partido pela perda dos filhos. “Moses tinha muita raiva de mim,” lembra ele. “O Ronan eu não conhecia bem porque a Mia não deixava eu me aproximar desde que ele nasceu e Dylan, que eu adorava, de quem era muito próximo e Mia chamou de minha irmã num ataque de raiva e disse: Ele tomou a minha filha, vou tomar a filha dele.”
Woody Allen conta, na carta publicada no Times, que sentiu culpa por ter se apaixonado por Soon-Yi e ter colocado Dylan numa situação em que foi usada pela mãe. Ele afirma que, junto com a mulher Soon-Yi, fez várias tentativas de manter contato com Dylan mas foi impedido por Mia Farrow. O diretor cita também seu filho adotivo Moses, de 36 anos, que se afastou de mãe e se reaproximou dele e defendeu o pai numa entrevista à revista People, dizendo que o abuso sexual não aconteceu.
“Aqui faço uma pausa sobre a situação de Ronan,” continua Allen. “ele é meu filho ou, como Mia sugeriu, filho do Frank Sinatra? Reconheço que ele se parece com o Frank, nos olhos azuis e nas feições, mas o que isto quer dizer? Que durante todas as audiências sobre a custódia, a Mia mentiu sob juramento e falsamente apresentou o Ronan como nosso filho?”
Allen não duvida que Dylan acredita nas acusações que faz e diz esperar que um dia ela compreenda que foi explorada e privada de um pai.
E conclui dizendo: “Esta será minha palavra final sobre toda esta questão e ninguém vai responder por mim em comentários mais adiante. Um número suficiente de pessoas já foram feridas.
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Lúcia Guimarães é colunista do Estado de S. Paulo, em Nova York