Socorro. O jornalismo cultural virou mera reprodução de releases e de conteúdo do Google. Pauta, pré-pauta, conversa com o entrevistado antes de marcar entrevista simplesmente não existem. Falar em encontrar o melhor caminho para a matéria ou discutir o approach é papo de ET. A desculpa é a falta de tempo, mas a verdade é que falta tino, faro, falta alma de fuçador. Fuçar fatos, para não chafurdar na lama e se transformar num espírito de porco que só sabe reproduzir o que ouviu, fofocas principalmente. As da rádio corredor, então… Jornalismo que é bom, reportagem mesmo…
Tudo bem que é cada vez mais difícil, mas a boa pauta é aquela que você não encontra logo nos primeiros cinco itens de pesquisa do Google. É a que tenta procurar um tema que saia do óbvio, do geralzão. É primordial afastar a letargia, tirar o cérebro do automático, pegar no telefone, ser curioso (eu achava que essa era condição sine qua non para ser jornalista) e perguntar, perguntar, perguntar, pesquisar (achava que esses também fossem requisitos básicos). Mas as únicas frases que ouço dos educados pauteiros ao telefone são: qual seria o melhor horário para marcarmos a entrevista; tem site para eu pegar o endereço? E está fechada a pauta.
Se é no jornal, menos mal… O repórter corre atrás, liga e ainda tem tempo de tirar o melhor. Mas, se é em TV, em geral não há como correr atrás da melhor imagem e do melhor entrevistado em cima da hora. Faz o que dá: frases da Wikipédia, intercaladas às do release, usadas para complementar imagens banais, feitas por um câmera/motorista que sai sem auxiliar (eles são cada vez mais raros nas equipes de TV). Faz imagens sem usar iluminação, sem usar a vontade, sem usar a alma. A matéria vira um Google imagético. Nada que o espectador não teria conseguido obter dando ele mesmo um Google.
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Karen Monteiro é jornalista, Curitiba, PR