Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Empresas de ônibus responsabilizam imprensa por incentivar violência

Para as empresas e cooperativas de transportes coletivos da cidade de São Paulo, é culpa da imprensa o incentivo aos ataques aos veículos, que neste ano, já somam mais de 40 somente na capital paulista. Em reunião com o promotor de Justiça do Patrimônio Público Saad Mazloum, que em 2008 abriu um inquérito para apurar a qualidade dos transportes da cidade e denunciou o Consórcio Leste 4 por maus serviços e suspeita de desvios de recursos, os representantes dos sempre tão “escondidos” donos de ônibus disseram que quando os jornalistas noticiam os ataques acabam “incentivando” outras ações e dão “visibilidade” aos criminosos que incendiaram os coletivos. As empresas dizem que se referem às coberturas chamadas por elas de “sensacionalistas”.

Mas quando o assunto foi mexer no bolso, os donos de viações e de lotações se eximiram. Afirmaram que não devem instalar câmeras de segurança, já que a medida seria “pouco eficaz” e extremamente cara para equipar os 15 mil ônibus e micro-ônibus municipais de São Paulo. A instalação dos equipamentos foi sugestão da própria Polícia Militar.

Ainda em relação à imprensa, as companhias de ônibus querem que a PM sempre destaque um interlocutor para os jornalistas quando acontecerem novos ataques. O objetivo é fazer com que este policial fale das ações preventivas, medidas de combate aos incêndios e de segurança para desestimular os atos criminosos.

O comandante-geral da PM de São Paulo, Benedito Meira, rechaçou a ideia dos empresários e dos perueiros e disse que este papel de interlocução não cabe à Polícia Militar. Ele entende que alguns tipos de coberturas jornalísticas podem incentivar as ações criminosas, mas que a imprensa deve ser livre.

Como agir

Os empresários de ônibus se esqueceram, no entanto, que foi a preocupação da imprensa em divulgar os incêndios que acabou ajudando na abertura de portas para eles mesmos cobrarem de maneira mais enfática as autoridades para que este problema seja resolvido. A informação sobre um ataque a ônibus é utilidade pública. Pode prevenir o cidadão comum a não ir para determinado bairro logo em seguida ao ataque e buscar formas alternativas para se deslocar. Também ajuda o passageiro em caso de paralisações de trabalhadores do setor em protesto legítimo contra a violência e até mesmo quando as linhas são encurtadas, muitas vezes, por ordem velada da própria empresa de ônibus que teme destruição de mais patrimônio. Cada ônibus custa em média R$ 500 mil, sendo que modelos articulados e biarticulados têm valores que giram em torno de R$ 1 milhão.

É certo que a imprensa não deve “glamourizar” o bandido e as ações criminosas. Mas ela não deve jogar para “baixo do tapete” uma realidade que é problema de polícia, mas não só de segurança e envolve áreas como educação, infraestrutura, saúde e melhor geração de oportunidades de emprego e renda. Afinal, muitos ataques são ordenados pelo crime organizado, mas outros são promovidos por vândalos ou criminosos que agem isoladamente e têm como pano de fundo ou oportunidades de ação, as várias manifestações para a melhoria da qualidade de vida.

As empresas querem também mais policiamento preventivo e que as ações de incêndio a ônibus sejam tipificadas em crimes cujas penas são maiores, como formação de quadrilha ou bando e tentativa de homicídio, dependendo do caso. Agora, se as empresas acham que terá pouco efeito a instalação de câmeras, mais inútil ainda é tentar determinar como a imprensa deve se portar. Afinal, os donos de empresas precisam fazer mais sua parte, como treinar o motorista e cobrador melhor de como deve agir em caso de ataques e dar mais amparo aos profissionais de transportes que sofrem as ações criminosas, muitos dos quais, acabam quase sem respaldo humano da viação e não conseguem mais ter uma vida normal.

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Adamo Bazani é jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes