Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Os jornais do ‘Admirável Mundo Novo’

A propaganda e a publicidade já tomam de tal forma o noticiário de jornais e revistas que ele mal se diferencia delas. São jornais com falsas primeiras páginas e revistas com capas de regimes alimentares revolucionários como Veja e Época.

Na admirável distopia Admirável Mundo Novo, o escritor inglês Aldous Huxley coloca os três grandes jornais de uma Londres do futuro no subsolo e primeiros andares de um edifício encimado pelo “Colégio de Engenharia Emocional”. Abaixo dele seguem-se os “Escritórios de Propaganda pela Televisão, pelo Cinema Sensível e pela Voz e Músicas Sintéticas”; e, afinal, os jornais: Rádio Horário para as castas superiores; a Gazeta das Damas, monossilábica, mais o Espelho dos Deltas, para as classes inferiores.

Huxley escreveu Admirável Mundo Novo para advertir contra os possíveis males da megalocracia liberal cienticocrática. Nela não haveriam mais crimes e seus jornalistas, como Helmholfz Watson se entediariam escrevendo Cantos Comunitários ou o “último aperfeiçoamento dos órgãos aromáticos”.

Pode-se dizer alguma coisa a respeito de nada?, questiona ele a certo ponto, desesperado. Pode. Basta ler os cadernos de Culinária, Turismo, Celebridades, Informática, cada vez mais coloridos e repletos de fotos e ilustrações de nossa pequena grande imprensa. E logo-logo (não duvidem da criatividade de nossos CEOs-publishers) decoração, moda e pet (os antigos bichos de estimação).

Afinal, de suas alturas, os grandes editores brasileiros vivem pensando em agradar primeiro a seus anunciantes e o que melhor do que leitores-consumidores classes A, B/C, Y, Z fidelizados, que inclusive frequentem os restaurantes, auditórios, debates, teatros, cinemas; quando não preencham suas videotecas e enotecas com produtos das grandes organizações.

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Zulcy Borges de Souza é jornalista