Em meio às manifestações e à onda de violência que assola o Brasil, uma coisa chama a atenção e preocupa: o descrédito da imprensa perante a população. Sendo eu um homem de comunicação e imprensa há 19 anos (quase 20), tenho assistido entre preocupado e perplexo como a nossa credibilidade está despencando de forma acelerada. O motivo maior desse descrédito é que as pessoas, quase todas conectadas e participando das redes sociais, estão muito mais informadas que há uma ou duas décadas.
Mais que isso: com smartphones com câmeras e internet, qualquer pessoa virou um repórter em potencial e agora cada um pode relatar os fatos sob a sua ótica. Não precisa mais da mediação da imprensa. Quando um veículo ou repórter transmite uma notícia que não condiz 100% com a realidade factual, sobram vozes complementando, rebatendo ou desmentindo a notícia veiculada. Essa é a realidade para a qual nós, jornalistas, editores e donos de jornal/rádio/televisão temos que nos ater. O mundo não é mais como era antigamente.
Aos jornalistas e jornais impressos, e mesmo à televisão e rádio, não cabe mais simplesmente dar a notícia apressada sobre o fato ocorrido. É preciso oferecer intepretação livre e honesta aos consumidores de notícias porque estas já foram veiculadas nas redes sociais e site e estão, portanto, velhas de véspera.
Barcos à deriva
Nos protestos de junho de 2013, um carro da Rede Record foi queimado. A Rede Globo tem sido achincalhada publicamente por manifestantes diversos. Folha de S.Paulo e O Globo são criticados constantemente por leitores e internautas. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) desdenhou na terça-feira (18/2) dos editoriais e cobertura d’O Globo sobre a ação dos black blocs.
Rachel Sheherazade, polêmica apresentadora do telejornal de rede do SBT, tem sido hostilizada nas redes sociais devido ao seu apoio aos justiceiros que acorrentaram um jovem infrator num poste, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. O comentário de Sheherazade continua causando furor entre os defensores dos Direitos Humanos.
Aqui em Roraima, onde todas as emissoras de rádio e televisão e os jornais pertencem ou estão ligados a grupos políticos, a situação é preocupante. Um grevista de Boa Vista, capital do estado, gritou no meio da multidão: “Não acreditem nessa mídia mentirosa”.
Incontestavelmente, vivemos uma crise de credibilidade perante aqueles que são a razão de ser da nossa atividade: o leitor, o telespectador, o ouvinte, o internauta. Temos de fazer uma avaliação profunda sobre o papel da imprensa nessa Era Digital. As previsões sobre a morte dos jornais, diante desse mundo digitalizado, já deram com os burros n’água. Decididamente os jornais não vão acabar, mas vão ter de passar (e já estão passando) por uma metamorfose profunda.
Agora, a credibilidade da imprensa está por um fio. Se não cuidarmos de fazer uma autoanálise e correção de rumos, certamente ficaremos como barcos à deriva num mar de incrédulos. E, assim, de pouca coisa serviremos.
******
Luiz Valério é diretor de Jornalismo da Rede Tropical de Comunicação, Boa Vista, RR