Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O homem que sabia economês

O escritor Lima Barreto escreveu um saboroso conto, na virada do século 19, chamado “O homem que sabia javanês”, em que o personagem principal era um homem que, dizendo saber javanês, virava uma personalidade célebre da República depois de apenas decorar algumas palavras de um livro raro da língua.

No Brasil atual, particularmente no jornalismo econômico, abundam os jornalistas e economistas que falam economês. Lá estão sempre eles nas páginas de revistas, jornais e mesmo na TV, desfilando seu economês que quase ninguém entende. As frases são esotéricas: “O câmbio não deveria ser variável de política econômica, com função de auxiliar a economia a crescer” (Samuel Pessôa, em “Câmbio e crescimento”, na Folha de S.Paulo). “A administração Dilma Rousseff, em especial, abusou do modelo do consumo, sem enxergar a necessidade de novas estratégias à luz das transformações globais e da baixa produtividade interna (ufa!)”, editorial “Ambição real”, do mesmo jornal.

Mistério enxadrístico

Daria para fazer uma História da Economia Brasileira com os ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes e diretores do Banco Central, o BC, ex-ministros qualquer coisa que viraram articulistas contumazes de economês para brasileiro ver. Mas não é prudente citar o nome de todos, já que a maioria saltou para a imprensa depois de falcatruas e planos fracassados. Ainda que um dos melhores seja o ex-super ministro Delfim Netto.

O economês é uma novilíngua inventada no Brasil (o Financial Times, por exemplo, não a pratica). Poucas pessoas a entendem fora o pessoal do “mercado”. Uma de suas versões são os economistas cabeça de planilha, como bem os definiu o jornalista econômico Luis Nassif. Ou seja, os economistas e jornalistas que falam através de gráficos e tabelas – uma coisa chegada assim ao mandarim. É uma coisa feia e um mistério enxadrístico o que esse pessoal quer fazer além de ganhar o jogo sozinho.

No conto de Lima Barreto, o malandro que dizia saber javanês dá com os burros n’água quando aparece um náufrago javanês autêntico e ele não sabe patavina do que o estrangeiro fala. Aqui no Brasil, acontece o mesmo quando aparecem os técnicos do FMI.

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Zulcy Borges de Souza é jornalista