Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Se a canoa não virar…

O PMDB estava, há anos, esperando uma chancezinha para colocar as unhas de fora. Os sinais de ocorrência de propina num dos leilões do pré-sal envolvendo funcionários da Petrobrás foram o combustível que faltava acender o estopim. A convocação de 10 ministros do governo Dilma Rousseff (PT) de uma só vez para iniciar a apuração das denúncias revelou a fragilidade da maioria parlamentar no Congresso de que tanto se orgulhava o PT.

CPI é assim: sabe-se como começa e não como termina. É nesse ponto que a cobertura da imprensa brasileira demonstrou, na última semana, seu maior grau de fragilidade: os velhos analistas políticos, como Derli Barreto (Folha de S.Paulo) começam a fazer falta. As análises políticas rasas e superficiais de hoje, sem sutileza e nuances vernaculares, parecem realçar a profundidade de um Antonio Callado (no Correio da Manhã, anos 1950) ou do jornalista catedrático em política brasileira… (Jornal do Brasil, anos 1970).

O PMDB pareceu, de segunda para quarta-feira (12/03) um urubu faminto em busca de uma carniça. De todos os lados havia uma cobrança. E isso foi suficiente para silenciar a voz do PT, sempre tão ávido na defesa do governo.

A descoberta de sinais de corrupção numa licitação do pré-sal determinante para a entrega de uma grande jazida a uma multinacional foi suficiente para, em menos de 72 horas, a criação de um clima de tensão dentro do congresso nacional destinado a formação de uma CPI da Petrobras. A simples mobilização e a aprovação dos nomes dos 10 ministros mais a presidente da Petrobras, Graça Foster, para prestar depoimentos no Congresso nacional pôs o governo Dilma Rousseff (PT) de cabeça para baixo: para uma simples apuração não acabar se transformando numa suspeição geral sobre a condução do processo licitatório do pré-sal, o que significaria uma avacalhação total do Brasil no exterior, o governo vai ter que recorrer a uma reengenharia política extraordinária destinada a remontar sua maioria no parlamento.

Isto é: se a canoa não virar, claro.

******

Reinaldo Cabral é jornalista e escritor