Quando Chris Anderson, o chefão do TED (Technology Education Culture), anunciou que o próximo convidado para as suas conversas de divulgação ia ser Edward Snowden, mais de um quase cai da cadeira. É sabido que Snowden está refugiado em algum lugar da Rússia, após ter vazado milhares de documentos secretos graças ao seu trabalho na NSA, uma das agências de espionagem mais poderosas do mundo. O norte-americano, obviamente, não estava ali, pelo menos não fisicamente. Algo assim como uma plataforma rodante que coroava uma tela, apareceu no palco das conversas na terça-feira [18/3] em Vancouver, Canadá. Era controlada, de forma remota, pelo próprio Snowden. O homem mais procurado do mundo (ou pelo menos um dos mais perseguidos) apareceu sorridente no monitor, disposto a falar de controle governamental, espionagem e transparência: “Nossos direitos são importantes, porque nunca sabemos quando vamos precisar deles” afirmou em primeiro lugar, provocando o primeiro dos muitos aplausos do auditório, que na sua maioria parecia rendido ao espião mais famoso da era moderna, com licença de Julian Assange.
“As maiores revelações ainda estão por vir” afirmou Snowden, após que Anderson (que exercia o papel de mestre de cerimônias) o indagasse sobre as centenas de milhares de arquivos classificados (se calcula que se levou 1,7 milhão) que ainda estavam em seu poder e que não vieram à tona. “Alguém acha que com toda esta encruzilhada foi prevenida ou evitada alguma ação terrorista? Eu digo que não. O terrorismo é a desculpa, porque essa palavra gera uma reação emocional. (…) O único que pretendo é que uma pessoa possa viajar de trem, ou enviar uma mensagem de texto sem se preocupar por como essas ações vão ser julgadas pelo governo no futuro” explicava o ex-analista.
As grandes corporações da espionagem
Snowden, que há umas semanas que está em turnê (há uns dias apareceu – também via satélite – no festival SXSW de Austin), disse à plateia que não quer “ferir” o governo dos EUA, “mas o fato de que alguém seja declarado culpado sem possibilidade de julgamento é algo ao que devemos nos opor como sociedade”. Mais tarde, quando Anderson leu umas declarações de um oficial dos serviços de inteligência dos Estados Unidos nas quais afirmava que gostaria de “pôr uma bala na cabeça de Snowden”, se mostrou algo mais lacônico: “Acho que fiz o melhor para o povo americano mas sou muito ciente de que há alguns países que prefeririam que não estivesse aqui.”
Finalmente, um visivelmente nervoso Tim Berners-Lee (considerado o pai da World Wide Web) subiu ao palco para refletir junto a Snowden sobre o papel dos indivíduos em um mundo que parece viver sob a batuta das grandes corporações da espionagem (“a NSA, por erro, interceptou as comunicações de todos os cidadãos de Washington por um ano” dizia Snowden entre os risos da audiência) e culminou o ato com uma reflexão em voz alta: “Sou a prova viva de que um indivíduo pode enfrentar, cara a cara, as agências de inteligência mais poderosas do mundo… e ganhar”.
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Toni García, do El País Brasil, em Vancouver