De acordo com o novo Código de Ética médica, vigente desde 2009, a Medicina não pode, em nenhuma circunstância, ser exercida como comércio. E o médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho (novo Código de Ética médica 2009, princípios fundamentais, artigos VIII e IX).
Pesquisa realizada em 2010 pelo Cremesp (Conselho regional de Medicina do Estado de São Paulo) aponta que 48% dos médicos paulistas que recebem visita de propagandistas receitam os medicamentos sugeridos. E de acordo com a mesma pesquisa, os médicos recebem benefícios, produtos e até viagens das indústrias farmacêuticas. A prática não é ilegal, porém vai contra a ética médica, citada acima.
Segundo João Ladislau Rosa, atual presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), “a medicalização excessiva e desnecessária pode trazer danos aos usuários. Os fármacos com frequência causam efeitos colaterais indesejáveis, mesmo quando bem indicados”. A medicalização excessiva traz então malefícios à saúde e a ânsia por atingir metas e receber benefícios dos laboratórios, os médicos são um dos responsáveis por esse excesso.
Para a farmacêutica Rosana Santos, “embora possa haver efeitos colaterais na utilização de medicamentos, o paciente se sujeita ao produto. Como é o caso da quimioterapia, o paciente já sabe dos efeitos colaterais provocados pelos quimioterápicos, mas se sujeita ao medicamento, pois o benefício será grande” afirma.
Ladislau ressalta ainda que no capitalismo tudo é possível. Até desenvolver o fármaco e inventar a doença para utilizá-lo. Quem também ressalta isso em entrevista concedida ao Viomundo, em agosto de 2013 é a médica americana Adriane Fugh-Berman, “Existe um número maior de pessoas saudáveis do que de pessoas doentes no mundo e é importante para a indústria fazer com que essas pessoas que são totalmente saudáveis pensem que são doentes.”
Medicina preventiva: alternativa
De acordo com o Sindicato dos propagandistas, e vendedores de produtos farmacêuticos do estado de São Paulo, os propagandistas de medicamentos, são muitas vezes apenas vendedores. Raros são formados em áreas da saúde. Adrianne alega ainda que os médicos são facilmente persuadidos pelos propagandistas, por não terem experiência no comércio.
“O sistema de saúde brasileiro, o SUS, é provavelmente o maior sistema de inclusão social do mundo. Avançou e muito desde sua criação há 25 anos. Dois de seus pilares são a promoção e a prevenção à saúde. No entanto vários governos passaram, dos mais diversos matizes políticos, e nenhum deles investiu adequadamente na atenção primária à saúde. Hoje temos acesso a determinados serviços de alta complexidade e dificuldade de acesso a serviços de média complexidade. Não temos cobertura total na atenção primária, existindo muitos vazios assistenciais” alega Ladislau. O médico David Braga Júnior ressalta que tudo o que o médico diagnostica é uma tese e que falta humanismo. “Falta ouvir o coração” diz.
A atenção primária reduz o número de atendimentos e evita o uso excessivo e desnecessário de medicamentos. Como comprovado pela Secretária de Saúde, ela apresenta custos mais baixos, melhores resultados se comparados a medicina tradicional e maior equidade. Cuba por exemplo é o país em que mais se investe em medicina preventiva e graças a essa postura tem a menor taxa de mortalidade infantil da América (cerca de 4,9 por mil) e a expectativa média de vida é de 78,8 anos.
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Amanda Rebouças é estudante de Jornalismo