Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Acerca do liberalismo

O jornal Folha de S.Paulo, em recente profissão de fé, elencou o que pretende da política econômica do governo listando: crescimento equilibrado, ambiente de negócios, redução do gasto público, inflação baixa, redução de impostos, maior gasto público (!) com infraestrutura, política industrial, aumento da idade de aposentadoria, privatização. A cartilha resume sem retoques a teoria e prática dos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, na década anterior ao PT, que o jornal e os economistas neoliberais brasileiros fazem questão de esquecer.

Fernando Henrique Cardoso e o PSDB deixaram a Presidência com maus resultados econômicos apesar do amplo apoio da grande imprensa. A inflação anual era 12,5% – o dobro da atual; o desemprego 12,9% – três vezes o atual; a taxa de pobreza 26,7% – mais do que o dobro da atual; a dívida externa US$ 165milhões – mais do que o dobro da atual; os juros anuais 25% – o quádruplo dos atuais; a dívida pública 60,4% do PIB – o dobro da atual. O crescimento anual do PIB (cerca de 3% contra os 2,3% de 2013), sendo que o PIB de 2013 é muito maior do que o do final dos governos Collor e FHC.

O doutor em economia e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas – FGV – Samuel Pessôa, escreveu outro dia na Folha de S.Paulo: “A forte elevação do gasto da União como proporção do PIB até 2013 é consequência das regras de elegibilidade a diversos programas sociais e ao benefício previdenciário, além da política de valorização do salário mínimo.”

Os ensinamentos dos economistas

Tradução do falecido editor do Grupo Abril, Roberto Civita, na revista Veja no Natal de 2012: “Só isso (privatização, menores exigências trabalhistas, desoneração tributária) resultará no aumento da produtividade geral capaz de atrair mais investimentos, ativar a força de inovação e realização da iniciativa privada e, finalmente, realizar o fantástico potencial do Brasil em benefício de todos os seus cidadãos atuais e futuros.”

Já a economista Joan Robinson escreveu, em Liberdade e Necessidade: “Essa ortodoxia (capitalista) acha-se muito pesadamente impregnada pelos ensinamentos dos economistas que, em combinação com o patriotismo, tornam o ‘crescimento da renda nacional’ o objetivo da política e o critério do sucesso. As estatísticas do total global da renda nacional não concedem atenção à distribuição do consumo entre as famílias ou à composição do fluxo de mercadorias e serviços que ele mede. A composição da produção é muito grandemente determinada pelo que é lucrativo às firmas vender.”

A escolha é dos eleitores.

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Zulcy Borges de Souza é jornalista