O que o gesto da mão no queixo quer dizer sobre o sujeito fotografado? Trata-se de pose recorrente, como podemos ver em centenas de capas de revistas, em sites, blogs, fotos avulsas. Transmite seriedade, introspecção, reflexão profunda, a exemplo do pensador de Rodin. Em outubro de 2012, na capa da Época, numa foto montada, Joaquim Barbosa aparece com a mão no queixo, atento aos movimentos de José Dirceu.
A mãozinha no queixo também é alguém segurando sua máscara. Sobre o rosto, superpõe-se outro rosto. A máscara esconde a impotência de quem a usa. E quem a usa deseja, por meio dela, superar fraquezas. No blog de Roberto Jefferson, a mão no queixo sustenta essa imagem, como na postagem no Natal de 2013:
Perplexidade, dúvidas e hesitação também levam a mãozinha ao queixo. O que fazer? Para onde vamos? De onde esperar socorro? Em março de 2012, Carta Capital compõe uma capa com uma dupla mão de queixo emoldurando as feições de um flagrado:
Em 17 de maio de 1989, capa histórica da revista Veja mostrava o caçador de marajás, Fernando Collor de Mello, em ascensão. Collor está com a mão pousada no queixo. A pose para a foto foi estudada nos detalhes. O olhar firme e fixo de quem tem um brilhante futuro a conquistar. O queixo não pode cair. Os braços compõem com o corpo um tripé: a cabeça erguida nele se apoia.
Apenas três anos depois, outra capa da Veja prende os braços do presidente numa camisa de força:
Na revista Veja desta semana (9 de abril de 2014 – edição 2368), mais mãozinha no queixo.
Em matéria sobre o posicionamento do Supremo Tribunal Federal com relação ao sistema de financiamento eleitoral brasileiro, temos o ministro Teori Zavascki com a mão reflexiva no queixo.
Em outro momento, em algumas páginas dedicadas à política na França, surge Marine Le Pen (“um perigo”, conforme a reportagem) com a mão no queixo, olhando de lado, fazendo jus aos elogios que tem recebido: “inteligente, articulada e irônica”.
O gesto proustiano
Escritores costumam colocar a mão no queixo para mostrar que estão compenetrados, observando o mundo, ou observando o observador. Mas também poderia haver uma motivação menos sofisticada. Talvez tenha sido por orientação do fotógrafo que a mão, direita ou esquerda, acabou servindo de sustentáculo para a cabeça privilegiada de quem sabe pensar e escrever.
Na mesma edição da Veja desta semana, o escritor Cristovão Tezza está com a mão no queixo, ilustrando a matéria “Um lance de mestre”. Na legenda da foto diz-se que, em seu novo livro, O professor, Tezza faz “reflexões sobre mediocridade acadêmica e consoantes intervocálicas”. O escritor deve, portanto, espelhar a proposta de sua obra. O gesto é lugar-comum. Vamos chamá-lo de gesto proustiano.
Outra possibilidade é chamá-lo de gesto vallejiano, lembrando o grande poeta peruano, César Vallejo (1892-1938), contemporâneo de Proust, que também eternizou sua imagem com a mão no queixo, contemplando o horizonte infinito:
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Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br