Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O legado da Copa e os atrasos nas obras

A poucos meses do início de um dos maiores torneios esportivos do planeta – a Copa do Mundo – pairam dúvidas sobre o sucesso dessa realização. Para os brasileiros, tão grande quanto à dimensão do evento é a expectativa de que a seleção brasileira conquiste o título pela sexta vez. Por outro lado, em torno dessa mega competição reside um ponto crucial que constantemente vem sendo foco de discussões nos meios de comunicação, em audiências públicas e setores da sociedade civil organizada: o legado que a Copa deixará para o país.

Por melhor que seja o desempenho da seleção brasileira nesse mundial, o evento passa, assim como a alegria efervescente dos torcedores. A partir daí, os contrastes sociais momentaneamente ofuscados voltam a ganhar destaques nos jornais. Assim, após a euforia, a vida continua com todas as suas adversidades. É por isso que cada vez mais ganha força o debate sobre que legado a Copa deixará para os brasileiros, benefício este que para a população assume uma importância bem maior do que uma sexta estrelinha de campeão adicionada à camisa da seleção. Isso porque o referido legado, se houver, tem caráter definitivo.

Mas que legado é esse? Segundo a Secretaria-executiva do Ministério do Esporte, para sediar um evento dessa magnitude, a estimativa oficial é que o Brasil investirá cerca de R$ 25,5 bilhões em aeroportos, portos, mobilidade urbana, hotéis, segurança, turismo e estádios. Caso esses investimentos sejam de fato aplicados com qualidade e transparência nessas áreas, o país se beneficiará. O conjunto de progressos nesses setores é o que se chama de legado da Copa. Incluso nele estão a geração de emprego e renda proveniente das obras necessárias para a construção de toda infraestrutura que o evento requer.

Cenário nebuloso

Além disso, o Brasil se tornará uma “vitrine mundial”, visto que no período da Copa os holofotes estarão voltados para o país que, com isso, terá a oportunidade de apresentar ao mundo as suas belezas naturais, pontos turísticos, cultura e oportunidades de investimentos.

Entretanto, as diversas obras com cronograma em atraso no país, além da violência urbana, apresentam-se como uma ameaça ao torneio e à tranquilidade e segurança dos visitantes. Em Salvador, por exemplo, a única obra concluída até o momento foi a da Arena Fonte Nova. Já as de mobilidade urbana, como o metrô e o BRT, e as do aeroporto e do terminal de passageiros do porto da cidade, estão atrasadas. A capital ainda tem o agravante de ter sido considerada a 13ª cidade mais violenta do mundo, segundo estudo realizado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal AC.

Em vista de tantos pontos inconvenientes, ainda é muito incerta a ideia de sucesso da Copa do ponto de vista da mobilidade urbana, infraestrutura e segurança. Os aspectos negativos criam um cenário nebuloso que dá margem para dúvidas a respeito do êxito do evento e põem em xeque o tão esperado legado e a imagem do país.

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Irlã Andrade é jornalista