Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Nós nos importamos’

Definitivamente há algo de novo na Globonews. No sábado (11/4), o Jornal das 10 do canal apresentou uma reportagem sobre a ocupação da favela da Maré na qual todas as imagens foram produzidas por fotógrafos e cinegrafistas independentes, muitos deles moradores de favelas no Rio de Janeiro. A edição foi feita pela emissora, mas todo o resto da matéria foi obra dos independentes.

Vitor Madeira, Luiz Baltar, Naldinho Lourenço e outros evitaram a concorrência descabida com a grande imprensa: focaram suas lentes em fatos do cotidiano que não estavam sendo alvo da cobertura dos profissionais da grande mídia tradicional. Mas, atenção: tradicional não quer dizer inútil ou traiçoeiro, e independente não significa imparcial e justo. A reportagem mostrou a importância da colaboração entre os profissionais independentes e os empregados das empresas de comunicação.

Maestria e dignidade

Houve igualdade no tratamento dos fotógrafos e cinegrafistas independentes. Ninguém foi chamado de “jornalista cidadão’, ou “colaborador da comunidade”: eram profissionais a trabalhar e trocar experiências em condições de igualdade. Foi um momento emocionante para o telejornalismo brasileiro A motivação dos independentes foi comovente: eles declararam que “buscam o inusitado” e a “fotografia humanista”. Eles já perceberam que a ação rápida da mídia audiovisual tem o poder de moderar a violência de policiais mal preparados e mal intencionados. E usam este poder com destemor, mesmo sabendo dos vários casos de jornalistas atacados pela polícia.

Madeira conduziu o pequeno tour pela favela da Maré uma semana depois da sua ocupação pelo exército. O fotógrafo fez questão de mostrar que a maior parte população continuou com seus afazeres naquele dia, apesar da violência da ação das forças de ocupação do Estado. Explicou que eles estavam em suas casas, e que não tinham nada a temer. As forças de segurança eram as invasoras ali, e não a população local. Verdade da boa: a favela da Maré (ou complexo da Maré) foi transformada em bairro da cidade entre 1988 e 1994. Mesmo com suas condições de vida ainda bastante precárias.

O jovem fotógrafo fechou a matéria com maestria e dignidade, ao informar que ele e seu grupo contam com colaboradores especializados em procurar notícias: “Porque as pessoas às vezes não se importam. E nós nos importamos”.

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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor