Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A Globo e a entrevista dos camaradas

Eis que os blogueiros ficaram famosos! Página inteira no jornal O Globo de hoje [quinta-feira, 17/4]. Foi uma decisão editorial de última hora, porque até então pensávamos que a matéria seria relegada ao Caderno Mais, restrito ao site e a assinantes. Não, fomos para o centro do palco.

É uma matéria incrivelmente venenosa, embora não tenham conseguido achar nenhuma nódoa na blogosfera. Bem que tentaram, mas ficou só no veneno mesmo.

O problema maior está no conceito da matéria. Ela foi feita para desqualificar. O tom é macartista, tipo assim: fulano tem essas e aquelas ligações com o comunismo internacional. A ligação seria um bannerzinho de uma prefeitura aqui, de outra ali, como se a gente não soubesse que a Globo tem recebido, ao longo das últimas décadas, bilhões, bilhões e bilhões de dinheiro público. Aliás, ao lado da nossa entrevista, o que vemos? Uma página inteira comprada pela Petrobrás, esclarecendo alguns fatos sobre a compra de Pasadena.

É irônico ou não é?

É assim, a Globo mente, calunia, distorce, e depois vende uma página para que a Petrobrás tente defender a sua versão dos fatos.

E quem ganha dinheiro é a Globo, como sempre, que aí vai atrás do blogs porque um ou outro tem bannerzinho de uma prefeitura.

Ou seja, o contribuinte brasileiro paga para a Globo atacar os blogs e contar mentiras sobre a Petrobrás. Aí a Globo fica cada vez mais forte, e pode cobrar mais caro.

Por outro lado, há um lado útil nessa história. A podridão se tornou mais evidente que nunca. E cresceu a consciência política dos leitores. Quanto mais a Globo desanca o blogs, mais aumenta a admiração das pessoas por eles, porque as pessoas, cada vez mais, veem a mídia como um partido político que representa tudo que existe de atrasado, reacionário e truculento no país. Se esta mídia não gosta da gente, é porque alguma qualidade a gente deve ter.

Concentração financeira é brutal

Os caras são malandros, porém. Eles sabem que a melhor maneira de aniquilar a opinião alternativa, agora que não existe mais um regime ditatorial para matar quem pensa diferente, é nos asfixiando financeiramente.

Aí temos esta situação complicada. Os blogs já tem centenas de milhares de leitores, em alguns casos até mais que a grande mídia, mas ainda continuam mortos de fome, porque as agências de publicidade privadas são acorrentadas aos bônus de volume que a Globo lhes oferece. E os governos continuam sob chantagem pesada.

Fazer um bannerzinho num blog é considerado crime hediondo, e as secretarias de comunicação morrem de medo de serem agredidas pela grande mídia.

Se estivéssemos na ditadura, seríamos todos presos, com “apoio editorial” da Globo, e o silêncio cúmplice dos burocratas.

Enquanto isso, não se aprova reforma política porque a Globo não apoia.

Não se faz trem-bala porque a Globo não apoia.

E agora o governo vai ter de gastar uma baba para convencer os brasileiros – os brasileiros, que sempre foram apaixonados por futebol e copas do mundo! – de que Copa do Mundo no Brasil é legal, porque a Globo também mente sobre isso.

Enfim, a Globo se tornou um fardo extremamente pesado para o Brasil. Alguém tem de quebrar esse ciclo vicioso! Nenhum país do mundo tem uma mídia tão desproporcionalmente concentrada, e com tão grande poder de chantagem sobre empresas e governos. Isso está prejudicando o desenvolvimento econômico do país. Está atrasando a evolução do próprio capitalismo, que precisa de concorrência, nem que essa concorrência seja forçada através de leis antitruste.

Não estou dizendo que o trabalho dos jornalistas da Globo não tem qualidade. Meu pai trabalhou no Globo nos anos 80. Era um grande jornalista. Ainda há bons repórteres e jornalistas na Globo, assim como excelentes roteiristas e profissionais de todos os tipos.

Eu já li o clássico A cultura do Renascimento na Itália, de Jacob Burckart. Os tiranos mais cruéis e inescrupulosos da história da Itália foram aqueles que mais patrocinaram as artes, porque a concentração financeira em suas mãos era tão brutal que eles podiam comprar os melhores artistas, e exterminar aqueles que se recusassem. É isso que a Globo faz. A concentração financeira em suas mãos é tão brutal que ela não deixa nenhuma flor vicejar fora de seu jardim. Ou ela esmaga, ou ela compra, quando não mata simplesmente pelo fato de bloquear a luz do sol.

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Miguel do Rosário é relações públicas