Artigo do jornalista francês Thierry Meyssan ajuda a esclarecer muitos fatos relacionados com os acontecimentos na Ucrânia. Meyssan revela que a imprensa polonesa informou aos seus conterrâneos e ao mundo um fato dos mais relevantes e que permaneceu escondido durante cerca de sete meses.
Matéria do semanário polonês Nie (Não) mostra que, em setembro de 2013, 86 ucranianos integrantes do Pravy Sector (Setor de Direita), de extrema direita, foram convocados para ir à Polônia treinar. Mas o convite feito pelo ministro das Relações Exteriores Radoslaw Sikorski veio disfarçado de um programa de cooperação interuniversitário.
Os “estudantes” no caso eram totalmente distintos de universitários propriamente ditos. Os convidados pelo governo polonês não eram propriamente jovens universitários e muitos deles tinham mais de 40 anos.
Ironias da história
Os extremistas de direita que não escondem sua simpatia pelos nazistas, inclusive cultuando ucranianos que pegaram em armas ao lado das forças do Terceiro Reich, na verdade, segundo revela o semanário Nie, foram se adestrar no Centro de Treinamento da Polícia de Legionowo, distante uma hora da capital Varsóvia.
Por incrível que pareça, os 86 simpatizantes do nazismo receberam durante um mês treinamento intensivo de como lidar com multidões, técnica de reconhecimento de pessoas, táticas de combate e de comando, comportamento em situações de crise e proteção contra gases utilizados por forças de segurança.
Mas tem mais: o principal do curso era o aprendizado de formas de atirar, que incluíam o uso de fuzis de franco-atiradores. E no treinamento preparatório para o golpe de Estado, os 86 ucranianos convidados oficiais do governo polonês trajavam uniformes nazistas, conforme comprovam fotos publicadas pelo semanário Nie.
Vítima do nazismo ajuda nazistas
Essas impressionantes revelações demonstram como o governo de direita polonês está implicado na preparação do golpe de Estado que em fevereiro destitui o governo democrático de Viktor Yanukovitch, eleito pelo povo da Ucrânia.
O jornalista Thierry Meyssan também analisa em seu artigo os vínculos da Polônia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que acabou por impor, junto com o governo dos Estados Unidos, os novos governantes de Kiev a partir de um golpe de Estado.
Vale também ressaltar a importância assumida pelo ministro polonês Sikorski nas negociações de 21 de fevereiro último para a saída da grave crise ucraniana. Apesar de firmado, o acordo não foi cumprido. E, na prática, o mesmo Sikorski que promoveu a ida dos simpatizantes do nazismo para treinar na Polônia aparecia como um dos negociadores. Os golpistas adestrados nas proximidades de Varsóvia derrubavam o governo legítimo da Ucrânia depois de sucessivas “manifestações” numa praça central de Kiev.
Cabem as aspas para se referir as manifestações na praça de Maidan, porque os 86 extremistas adestrados em Varsóvia, certamente junto com outros integrantes de grupos nazistas similares, entre os quais o denominado Svoboda, participaram ativamente das manifestações que culminaram com a queda do governo de Viktor Yanukovitch.
O lamentável desta história toda é que a mesma Polônia que sofreu na carne as agruras das forças de ocupação nazistas na Segunda Guerra Mundial, hoje se alia com grupos extremistas de direita ucranianos para impor um governo que se alia a União Europeia, integrada por países que também foram vítimas do nazismo.
Israel silencia
Também não se pode excluir a colaboração com a OTAN do atual governo extremista de direita de Israel, sob a chefia de Benyamin Netanyahu, que se utiliza do martírio do Holocausto para chantagear a opinião pública mundial e cometer atrocidades contra o povo palestino.
Não houve uma só palavra do governo israelense, aliado incondicional dos Estados Unidos, de denúncia sobre a ascensão de forças extremistas que reabilitam combatentes ucranianos pró-nazistas. Alguns analistas, entre os quais Thierry Meyssan, denunciam a participação de Israel no esquema golpista fomentado pela OTAN e pelos Estados Unidos que permitiu a ascensão e o fortalecimento de partidários do nazismo.
Não se pode deixar também de destacar a cobertura questionável dos grandes veículos de comunicação ocidentais, que de um modo geral omitem informações relevantes, como as mencionadas neste espaço tendo como fonte principal o jornalista Thierry Meyssan.
Só desta forma os leitores, telespectadores e ouvintes teriam melhores condições de formar opinião sobre o significado dos fatos atuais e que antecederam a crise na Ucrânia, que para muitos analistas, como o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, deram início a uma segunda Guerra Fria.
******
Mário Augusto Jakobskind é jornalista