Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo e passamos a notar cada vez mais manifestações populares nas ruas e, principalmente, nas redes sociais. Todos pedem mais saúde, educação, transporte, segurança e muito mais. Os questionamentos são infindáveis. Gastam-se bilhões em estádios que se tornaram verdadeiros “elefantes brancos”. Em 2007, o grito de gol ecoou quando o Brasil foi anunciado a sede da Copa de 2014. Lula estava lá e comemorou com sua comitiva o feito histórico para nosso país. Isso até me fez lembrar 1970, com o Brasil todo de verde e amarelo. Noventa milhões movidos pelas apresentações geniais de Pelé, Tostão, Rivelino e companhia. Assim como Lula, o presidente da época, Emílio Garrastazu Médici, adorava fazer suas “embaixadinhas” com a bola diante dos fotógrafos.
Desde a escolha do Brasil como sede da Copa até agora, foram sete anos e nada vimos além de desvios de verbas, superfaturamento, estádios inacabados, infraestrutura quase zero e gastos aproximados de 25 bilhões de reais, muito além do previsto e, pior ainda, a maior parte vem do dinheiro público.
Hoje em dia continua viva a expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a do “complexo de vira-lata”, expressão essa que não se limita ao meio futebolístico com perda do título mundial de 1950, e sim, segundo ele, a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Ganhamos as ruas e mostramos ao mundo nossa indignação, desta vez não com um país acuado pela repressão e pela militarização, mas sim, contra a roubalheira e a corrupção.
Enquanto isso o outro lado do evento mostra a torcedora Dilma trocando figurinhas “não da Copa”, com o presidente da Fifa Joseph Blatter e prometendo ser essa a melhor de todas as Copas. Parece que nesse jogo extracampo, o melhor mesmo é varrer a Fifa para debaixo do tapete, pois é notório que essa entidade é ligada a negócios escusos e carrega o símbolo do capitalismo selvagem.
O ópio do povo?
Jornais europeus, como The Times, da Inglaterra, e Mundo Esportivo, da Espanha, colocam em xeque a realização da Copa no Brasil. O jornal britânico entrevistou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que diz estar preocupado com a organização dos jogos. O jornal citou ainda que esta pode ser a pior das Copas.Vários problemas foram abordados pelo jornal, entre eles a queda de apoio ao evento por parte dos brasileiros e a possível revolta popular à época do torneio, além da distância física entre as 12 sedes brasileiras. A publicação diz que os cerca de 3,6 milhões de torcedores esperados para a Copa sofrerão para chegar aos jogos por terem de trafegar “desde a Floresta Amazônica até uma cidade dominada pelo crime, São Paulo”.
Mais uma vez, o evento será acompanhado por bilhões de pessoas em todo mundo e conseguirá a façanha que nenhuma propaganda de governo faz: esconder os problemas sociais e econômicos. Prova disso é o que ocorreu há quatro anos na África do Sul: muitos falavam do “plano B”, caso os sul-africanos não conseguissem terminar todas as obras a tempo. Nem tudo nessa Copa ocorreu às mil maravilhas, mas diante de tanto temor o que ficou mesmo na lembrança de muita gente foram apenas as chatas “vuvuzelas”.
Bem, amigos, como diz o locutor do tetra, mesmo com todas as previsões pessimistas, e tudo sendo resolvido a toque de caixa, ainda acredito que teremos a realização de uma Copa sem grandes manifestações como aquelas ocorridas na Copa das Confederações, pois, lamentavelmente, o futebol continua e continuará sendo o ópio do povo.
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Carlos Alberto Martins Netto é professor/membro do GCom– Grupo de Desenvolvimento e Gestão de Projetos em Comunicação/ECA/USP