A febre do álbum de figurinhas da Copa do Mundo da Fifa 2014, produzido pela editora Panini, tem elevado os ganhos das bancas de jornais no país. As vendas seguem em volume muito maior do que na última edição, em 2010, quando o campeonato foi na África do Sul. A paixão pelo futebol e o fato de os jogos acontecerem no Brasil estimulam os colecionadores. As obras dos estádios e de mobilidade urbana podem estar atrasadas, mas o movimento de compra, venda e troca de figurinhas está em ritmo acelerado.
“Estamos impressionados com a força dessa história. O fluxo de pessoas nas bancas aumentou bastante. Junto com as figurinhas, acabam levando outros produtos, muitos deles, de maior valor agregado”, comenta José Antonio Mantovani, presidente do Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas de São Paulo (SindjorSP), que representa 4.500 bancas no estado ou pouco mais de 30% do mercado nacional.
Segundo estimativas do sindicato, as vendas devem crescer de 10% a 50% no período que vai do lançamento do álbum até o fim dos jogos, em julho. A projeção é de aumento médio de 30% no faturamento. De acordo com Mantovani, os resultados dependem muito da localização da banca. “Por exemplo, algumas na periferia, que estavam com as atividades deprimidas, sentirão mais o resultado positivo. Talvez, as bancas bem posicionadas, que já vendem bem seu mix de produtos, tenham os ganhos extras mais concentrados nas figurinhas”, avalia. Segundo ele, os colecionadores são homens, mulheres e crianças, um universo de diferenciados perfis e gerações. Junto com as figurinhas, os consumidores costumam levar também jornais, revistas, gibis, pôsteres, almanaques e guloseimas.
No estado do Rio de Janeiro, o cenário também é dinâmico. “No mínimo, as bancas vão vender 10% a mais no período, o que é muito dinheiro considerando-se o faturamento universal das publicações”, destaca Vicente Francisco Scofano, presidente do Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas do Rio de Janeiro (SindjorRJ), que possui 3.800 bancas associadas.
Mais conservador, ele prevê que as figurinhas contribuirão para um ano mais tranquilo. “Teremos um ganho respiratório proveniente das vendas que não estavam programadas, o que é ótimo”, ressalta Scofano. Ele comenta que os bancos de trocas de figurinhas estão potencializados pelas redes sociais, mas causam baixo impacto nos negócios. “As pessoas sempre terão que ir à banca para se abastecer”, diz.
De origem italiana, a Panini iniciou as operações no Brasil em 1989 e passou a publicar o álbum da Copa em 1990. Para a edição da Copa de 2014, foram realizados investimentos superiores a R$ 2,5 milhões. “Ampliamos a capacidade produtiva da fábrica brasileira para suprir a demanda com agilidade e qualidade”, afirma o diretor-presidente da Panini Brasil, José Eduardo Severo Martins.
“Nunca foi tão rápido vender esse volume”
A empresa pretende superar a marca alcançada em 2010. “Deveremos atingir mais de 8 milhões de colecionadores. Será fantástico ver tantas pessoas engajadas nesse desafio”, comenta Martins. Desta forma, a subsidiária deve bater mais um recorde. O Brasil foi o campeão mundial de vendas da coleção da Copa do Mundo da África do Sul, seguido pela Alemanha e Suíça. Nesta edição, os álbuns e figurinhas estão sendo comercializados em um total de 120 países.
O álbum oficial da Copa 2014 deve ser preenchido com 640 cromos adesivos. Cada uma das seleções é representada por 19 figurinhas distribuídas em duas páginas. Há ainda cromos especiais dos escudos dos países, metalizados com efeitos holográficos. O álbum custa R$ 5,90. Já os envelopes com cinco figurinhas saem por R$ 1. Isso representa um aumento de 25 centavos em relação aos pacotinhos da Copa de 2010 e de 40 centavos sobre preço praticado na Copa de 2006.
Na rua Doutor Bráulio Gomes, centro de São Paulo, a banca de Avelar Gomes Silva teve um acréscimo nas vendas de 30% em apenas 15 dias desde o lançamento do álbum de figurinhas no mercado. “As pessoas vêm comprar as figurinhas, mas a banca de jornal é uma tentação”, diz. Embora seja uma alta movimentação sazonal, ele estima que o resultado será positivo. “Em uma banca, 40% das compras dos clientes são as habituais, revistas, jornais e produtos que eles adquirem frequentemente. Mas, 60% são as compras por impulso”, comenta. As figurinhas estimulam justamente as compras por impulso de variados itens. Contudo, isoladamente, os cromos da Copa serão responsáveis por boa parcela dos ganhos.
“Uma banca pequena que conseguir vender 500 envelopes de figurinhas, ou R$ 500 por dia, terá R$ 9 mil em três meses”, diz Avelar Gomes Silva, que também é vice-presidente do SindjorSP. Ele, junto com esposa e filho, mantém outras duas bancas menores na Vila Sabrina, zona norte, e em São Miguel, zona leste. Nas três bancas, a família espera faturar R$ 26 mil com as figurinhas, líquidos.
Na Avenida Paulista, perto do Masp, a banca de Paolo Pellegrine já chegou a 2 mil figurinhas vendidas por dia. Ele acredita que esse número avançará ainda mais. “Na Copa passada, no auge, atingimos 4 mil a 5 mil pacotinhos de figurinhas por dia”, diz. Mas manter-se nessa marca nem sempre era possível, embora houvesse interesse dos colecionadores. Na época, segundo Pellegrine, houve problemas frequentes de descontinuidade no fornecimento pela editora. “A quantidade que chegava às bancas não era suficiente para o atendimento. A máquina da Panini rodava 24 horas por dia, mas a demanda era maior”, recorda. Desta vez, recebeu a informação de que a editora está preparada. “A empresa investiu em mais equipamentos e esperamos que não ocorram problemas de estoque.” Os ganhos da banca de Pellegrine na Paulista deverão subir mais de 10% até o final da Copa. Tradicionalmente muito frequentada, esse percentual representa muito em valores, enfatiza o proprietário.
“Nunca foi tão rápido vender esse volume”, comenta José Ivan Castro Paiva, proprietário há 18 anos de uma banca que fica na Avenida Padre Antonio José dos Santos, no Brooklin, bairro da zona Sul de São Paulo. Em apenas dez dias do mês de abril ele vendeu 50 caixas, cada uma com mil envelopes de figurinhas da Copa, além de mil álbuns. Ele conta que embolsou R$ 14 mil, já livres dos custos e impostos. A expectativa de Paiva é comercializar 150 mil pacotinhos de figurinhas até o início dos jogos.
As figurinhas da Copa do Mundo, conforme Paiva, têm uma procura muito maior do que as de outras competições. “O resultado que eu obtive nesses poucos dias corresponde ao total de vendas do último álbum do Campeonato Brasileiro”, conclui.
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Daniela Rocha, para o Valor Econômico