Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mundo cão na ‘Ilustríssima’

O caderno de cultura da Folha de S.Paulo, “Ilustríssima”, trouxe no domingo (26/4) a extensa e densa reportagem “Dias sujos”, do jornalista Lucas Ferraz, sobre as revistas íntimas nas cadeias do Brasil, especialmente na região metropolitana de São Paulo – capital, com os detalhes mais bárbaros, sórdidos e criminosos possíveis.

Trecho do início contado por uma costureira:

“Patrícia foi submetida em revista para visitar o marido na penitenciária da Grande São Paulo. ‘Elas (as agentes penitenciárias) gritavam ‘Vai, vai, tira este bagulho da vagina que você já está dando muito trabalho’. No hospital, a médica colocou um bico de pato (instrumento cirúrgico) em mim e abriu. Eu gritava e apertava o braço dela, falava que estava me machucando. Minha vagina até estalou. Ela ficou sem graça quando viu que eu não tinha nada’.”

Em resposta, o governo e a Secretaria de Administração Penitenciária do governo do Estado de São Paulo limitaram-se a negar as denúncias. A Secretaria, através de nota de sua assessoria de imprensa. A reportagem diz que as práticas se espalham por todo o Brasil apesar de alguns regulamentos estaduais mais humanitários, o que é aliás há muito tempo de conhecimento da imprensa, principalmente a policial.

Bom que a Folha de S.Paulo editou a reportagem, com ilustração magnífica de Estela Sokol. Mas por que só no caderno “Ilustríssima”, quando ela apresenta fatos recentes e a questão carcerária do Brasil deveria estar no centro do debate acerca da violência e da criminalidade? O caso seria naturalmente manchete em qualquer outro grande jornal, mas a Folha de S.Paulo daquele domingo preferiu, por exemplo, a manchete: “Indústria paga mais por luz do que antes da ajuda de Dilma”.

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Zulcy Borges de Souza é jornalista