A atuação do jornalismo brasileiro das grandes redes nacionais de comunicação nacional salta aos olhos, nos tempos atuais, se considerada a distância dos noticiários do Brasil sobre os demais países da América do Sul e central, de colonização e língua espanhola. Uma realidade que torna a população brasileira, no país com liderança na região e quase um continente, com pouco conhecimento do que se passa com os seus vizinhos. Paradoxalmente, numa época de organização de grupos econômicos e de amplo processo de globalização da comunicação midiática. Assim, por um lado os mercados e de outro a capacidade de percepção da sociedade brasileira sobre a realidade regional.
A geopolítica faz transparecer que há uma desconexão entre os países em termos culturais, de política, costumes etc., porém, a questão pode estar nas limitações da informação e conhecimento da realidade regional. Se analisado mais atentamente, é forçoso notar que o nosso jornalismo está voltado com primazia para a América do Norte e Europa, com informações cotidianas destes lugares, em grande parte da mídia nacional – sem contar as angulações prioritariamente negativas das notícias. Muitas vezes, acidentes corriqueiros nos Estados Unidos concorrem com notícias importantes em determinados estados fora do eixo Rio-São Paulo ou acontecimentos latino-americanos importantes. Como ocorre em casos de acidentes em Nova York, Washington ou mesmo em Londres. Lugares em que a mídia brasileira mantém repórteres que observam o mundo, inclusive a América Latina, sacando fontes (vozes) com relações políticas definidas com lugar de fala, então, estabelecido.
Embora tenhamos alto índice de não-leitores de livros na região (e por certo jornais impressos), alguns países se destacam em diversas pesquisas feitas na América Latina no interesse pela leitura, à frente do Brasil, como é o caso de Venezuela, Argentina e Peru. Há algumas semanas, se observou a existência de importantes autores com produções importantes na região, com ampla divulgação sobre a morte de Gabriel García Márquez, colombiano, reconhecido internacionalmente. Assim como o peruano Mario Vargas Llosa e o uruguaio Eduardo Galeano, na percepção do gênero literário, entre tantos outros.
O poder das vozes
Enquanto isso, no jornalismo os países latino-americanos são invadidos por meios de comunicação que transmitem em língua espanhola, cobrindo, portanto, do sul ao norte da América, com matriz nos grandes centros econômicos. O abismo no caso brasileiro poderia ser o idioma, porém um equívoco. Pode-se avaliar que há pouco interesse pela transposição das fronteiras regionais através da comunicação que poderiam evidenciar culturas que se assemelham na forma de vida, geografia, costumes, desigualdade social e política.
Deste modo, a liderança do Brasil sobre a região fica na lógica da economia e seu tamanho, numa espécie de fluxo de dominação autoritária, sem trocas e debates pertinentes sobre os problemas, muitos deles comuns. O jornalismo tem um papel importante a desempenhar nesta missão de integração da América Latina, mas por século demonstra desconsiderar a aproximação, como sendo pouco produtivo ou mesmo primitivista – distante das grandezas sofisticada dos tempos tecnológicos e mercados avançados. No final, tem-se a impressão que o melhor é se afirmar com a visão para os grandes centros econômicos, como exemplo de vida e de seleção de acontecimentos de interesse para o conhecimento social nacional e regional.
Nesta análise, esconde-se a primazia pelos exemplos de mercado solidificado pelos grandes conglomerados que aportam no Brasil, sem considerar a potencialidade econômica da região e sua força política para o desenvolvimento social numa aproximação entre os diversos países. Embora, iniciativas vêm sendo feitas também de maneira isolada no campo acadêmico e órgãos públicos vinculados a governos da região e instituições internacionais. O debate existe.
Não há dúvida quanto à influência política e econômica da América do Norte (EUA) sobre a América Latina, entretanto, a falta de informação dos acontecimentos destes países no Jornalismo brasileiro chama a atenção a cada dia mais, até mesmo pelo posicionamento político de parte de países da região, na tentativa de se estabelecerem na ordem mundial. Por isso, permanentemente a discussão sobre a dependência latina americana e sua capacidade para o desenvolvimento com justiça social e distribuição de renda. A riqueza natural e produtiva das nações regionais para superar da crise em tempos de economia globalizada passa pela informação. Uma questão que vai além da sublime diferença de idiomas e se encerra no poder das vozes no jornalismo comercial com poder global.
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Antonio S. Silva é jornalista, mestre pela PUC-SP, doutorando pela UnB e professor da UFMT, Campus Araguaia