Todos sabemos que o ambiente profissional do jornalismo mudou de maneira radical desde que, cerca de 20 anos atrás, a internet começou a se tornar realidade inescapável para quem exerce a atividade.
Mas é importante descrever e compreender empiricamente como essas mudanças ocorrem e o que resulta delas.
O Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sob a coordenação de Roseli Fígaro, compilou dados de 538 jornalistas e os reuniu no livro As Mudanças no Mundo do Trabalho do Jornalista (Editora Atlas, 2013).
Segundo ele, a atual geração de jornalistas em São Paulo é hegemonicamente feminina, com idade média entre 22 e 35 anos, sem filhos, com curso superior completo, trabalha de oito a dez horas por dia, ganha entre 2.000 e 6.000 reais por mês, não é associada ao sindicato, conhece muitas plataformas tecnológicas, muda de emprego com grande frequência, não planeja o futuro nem reflete muito sobre a profissão.
Os jornalistas com mais idade trabalham majoritariamente em agências de comunicação, não em veículos.
Em entrevista à Agência Fapesp, Fígaro disse que “o tempo e o espaço, comprimidos pelas possibilidades das tecnologias de comunicação e de informação, foram assimilados nos processos de produção de modo a reduzir o tempo para a reflexão, a apuração e a pesquisa no trabalho jornalístico. O espaço de trabalho encolheu e ao mesmo tempo diversificou-se, transformando as grandes redações em células de produção que podem ser instaladas em qualquer lugar com internet e computador. O jornalismo online, em tempo real, os blogs e as ferramentas das redes sociais são inovações nas rotinas profissionais”.
O futuro é dos robôs?
Em 17 de março deste ano, o Los Angeles Times deu um furo graças ao trabalho de um robô-jornalista.
A notícia relatava a ocorrência de um terremoto de magnitude 4,7 e oferecia informações sobre horário, epicentro, profundidade e abrangência geográfica do evento geológico.
O jornalista e programador Ken Schwencke criou um algoritmo capaz de, em três minutos, gerar automaticamente e colocar no site do Times uma notícia sempre que um terremoto ocorre, usando como fonte o US Geological Survey.
Vários veículos jornalísticos americanos e europeus têm usado robôs para escrever notícias simples, em especial nas editorias de esportes e de polícia.
Já existem até trabalhos acadêmicos que investigam a rea-ção de leitores a essas notícias feitas por computadores.
Christer Clerwall, da Karstad University (Suécia), submeteu textos jornalísticos sobre jogos de futebol escritos por seres humanos e por robôs: a maioria absoluta dos leitores foi incapaz de distinguir uns dos outros.
Em artigo publicado pela revista Journalism Practice, Clerwall diz que os resultados do trabalho podem indicar que os robôs estão fazendo um bom trabalho ou que os jornalistas estão fazendo um mau trabalho ou que ambos estão fazendo um bom (ou mau) trabalho.
Ele pergunta: “Se uma notícia feita por robô não pode ser distinguida de outra feita por jornalista, por que um veículo deve contratar pessoas?”.
Mas, no Times, Schwencke diz que o trabalho do robô, embora poupe tempo e dinheiro, não substitui o do jornalista.
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Carlos Eduardo Lins da Silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha de S.Paulo e do Valor