A compra da DirecTV pela AT&T, por US$ 49 bilhões, anunciada no domingo, selou de vez a entrada da gigante de telefonia no mercado brasileiro de varejo. A AT&T, maior empresa de telefonia dos Estados Unidos e presente no Brasil só por meio do mercado empresarial, entra também na DirecTV Latin America, controladora da Sky, a segunda maior rede de TV paga do Brasil.
Durante apresentação a analistas, ontem, a AT&T informou que seus recursos financeiros e operacionais complementam a liderança dos negócios de TV por assinatura da DirecTV na América Latina, bem como a expansão da banda larga fixa e móvel.
Randall Stephenson, executivo-chefe da AT&T, disse que acredita haver uma “grande oportunidade no Brasil”, ao falar das baixas taxas de penetração do serviço de TV por assinatura na América Latina. Em sua opinião, a DirecTV tem um bom estoque de espectro, usado para banda larga fixa e móvel. O Brasil fechou o primeiro trimestre com 18,4 milhões de assinaturas de TV, ou 9,1 acessos por 100 habitantes; e 22,3 milhoes de conexões de acesso à internet em banda larga, o equivalente a 10,5 conexões por 100 habitantes.
Entre as projeções para este ano, a AT&T destacou a intenção de vender sua participação de 8% na América Móvil, para financiar a aquisição da DirecTV; reduzir em aproximadamente 5% por ação o resultado de equivalência patrimonial; e ajustar os ganhos de venda por ação.
A combinação de escala e capacidades das duas companhias cria uma estrutura de banda larga nacional de rede 4G com tecnologia LTE com 300 milhões de pontos de presença (POPs); serviço de vídeo nacional; banda larga de alta velocidade com 70 milhões de clientes; uma equipe de gestão com histórico de integração de grandes sistemas; e um ponto significativo na América Latina, com áreas de penetração inexploradas e oportunidade para pré-pago.
Melhor flexibilidade financeira da AT&T
Além de o Brasil ganhar uma empresa mais forte em TV por assinatura e banda larga, entra também um competidor que pode incomodar as companhias estabelecidas. Ao deixar de ser sócia da América Móvil –, dona da Claro, Net e Embratel, no Brasil –, a AT&T se torna sua concorrente por meio da Sky. Cria condições também para outras fusões ou aquisições no país, já que há empresas que poderiam complementar negócios com a Sky, como a GVT, que está expandindo sua linha de TV por assinatura, ou a TIM, que não tem serviços de TV paga.
A AT&T já atua no Brasil por meio de sua unidade AT&T Global Network Services, voltada para o mercado empresarial. Nessa área, compete com a britânica BT e a americana Verizon.
A Standard & Poor’s (S&P) considera que a compra da DirecTV vai beneficiar a companhia, com aumento de escala e maior influência sobre fornecedores de programação nos EUA. Nessa linha, a agência classificou a DirecTV como “BBB”, com perspectiva positiva.
“A expectativa positiva reflete uma potencial elevação na classificação da DirecTV”, destaca a agência, que reitera sua previsão de que a transação beneficiará as duas empresas, com estratégias de longo prazo em torno de entrega de vídeo em banda larga.
A agência pondera, no entanto, que segue incerto como a AT&T vai lidar com a dívida de US$ 20,8 bilhões da DirecTV. O rating para a AT&T continua sendo A, com perspectiva negativa.
Para a Fitch, a aquisição poderá melhorar a flexibilidade financeira da AT&T – devido ao forte fluxo de caixa livre da DirecTV –, além de reforçar a posição da empresa no setor de vídeo, oferecendo o potencial para aproveitar as tendências no setor de telefonia móvel.
“Os recursos de vídeo da DirecTV são complementares às operações da AT&T, mas os benefícios estratégicos de longo prazo são menos claros e dependerão da capacidade da empresa após a fusão em relação às novas tendências do setor”, ressalta Fitch.
Procurada pelo Valor, a Sky não quis se pronunciar.
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Ivone Santana e Ligia Tuon, do Valor Econômico