Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O fosso entre o debate e a realidade

O ânimo dos prováveis candidatos à sucessão presidencial se acirra cada vez mais, segundo o noticiário da mídia. Porém, numa proporção geométrica, o caos urbano se acentua, mostrando a distância entre as propostas até agora expostas pelos proponentes e a realidade amarga do cotidiano do brasileiro.

A aproximação da Copa do Mundo está, de um lado, promovendo o eclipse de grandes inquietações sociais contrárias ao evento, que tendem a explodir nos dias previamente marcados e, de outro, coloca a mídia de internet na cabeceira da pista, por onde podem rolar todos os movimentos sociais organizados.

O deslocamento das atenções mundiais para o Brasil por conta do esporte repõe as questões sociais no topo político. Assim, por mais que a mídia tente obscurecê-las, cedo ou tarde sua força transcenderá todos óbices, tal como a água sempre encontra caminhos para alcançar seu fim.

Como um forte anestésico, o futebol ensandece a torcida, fazendo-a esquecer temporariamente o drama cotidiano que a acomete, como a insuficiência e precariedade de transporte coletivo, a saúde e educação precárias, a moradia insuficiente e precária, a insegurança total.

As incongruências do passado

O transcurso da sucessão presidencial mais uma vez se dá debaixo de um pacto imaginário oculto das elites, onde o cenário é o caos social. Os candidatos vão apresentar oficialmente suas promessas, planos, propostas para serem avaliados pelos eleitores. E cada um deles, ao alcance dos seus orçamentos, igualmente apresentará planos de marketing para convencê-los. Nesse período em que todos estão com os nervos à flor da pele, a mídia terá um papel fundamental para auxiliar os leitores na tarefa crucial de discernimento.

A mídia dos EUA criou, desde o começo do século passado, um hábito político saudável para a preservação da sua credibilidade, o de revelar com antecedência a candidatura em que o veículo se engajaria. A profusão de candidaturas em função da quantidade excessiva de partidos políticos obriga a mídia a promover esse primeiro filtro que, se amplo e científico, neutraliza o surgimento de distorções políticas milagreiras e fraudulentas, como a que permitiu o surgimento de Collor.

A evolução da história da democracia é suficientemente gratificante para possibilitar ao Brasil tirar proveito disso: não precisamos mais repetir as incongruências do passado nem reeditar equívocos, erros e experiências testadas.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor