Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A Copa das cidades

Rio de Janeiro e Sáo Páolo até que a mulher do tempo da CNN falou direito. Mas, quando chegou a vez de Cuiába e Manaush, a língua enrolou. São cidades que não costumam frequentar as previsões do tempo e muito menos o noticiário das redes de TV estrangeiras.

Mas agora as 12 estão lá. Salvador, Natal, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Cuiabá, Porto Alegre, Fortaleza. Na previsão do tempo da CNN, no noticiário esportivo do The Times de Londres e nas páginas políticas do Süddeutsche Zeitung, de Munique. Podíamos ter menos sedes da Copa, mas não vamos por isso desperdiçar os benefícios de tê-las. Os custos já estão contabilizados. Se não maximizarmos as oportunidades que trazem, esses custos terão sido ainda mais altos.

As 12 cidades-sede têm muito a ganhar com o olhar do mundo. Se fosse possível calcular o preço da atenção que a mídia mundial dará às cidades brasileiras nos próximos 30 dias, as cifras teriam padrão astronômico. E esta será a primeira Copa do Mundo ultraconectada. Em 2010, na Copa da África do Sul, o Facebook tinha 500 milhões de usuários, hoje tem 1,3 bilhão. O Instagram nem existia.

Então não vamos nos esquecer de incluir posts e uploads das cidades do Brasil nas redes mundiais durante e depois do Mundial para calcular o legado do torneio.

Algumas cidades, claro, dispensam apresentação.

Rio e São Paulo já são metrópoles globais por razões diferentes e por razões comuns. Cada cidade com sua vocação. E mesmo as duas grandes cidades brasileiras são ainda menos conhecidas do que deveriam. Por isso a exposição da Copa é não apenas positiva, como também necessária.

Manaus será invadida por ingleses e italianos, e pela mídia inglesa e italiana; Porto Alegre, por franceses; Curitiba, por espanhóis; Recife, por japoneses; Cuiabá, por sul-coreanos. Presentes em carne, osso e mídias. Não há nada mais global do que isso. Esta oportunidade não se repetirá.

O que nos define

Este é o século das cidades. E o mundo precisa conhecer as cidades do Brasil. Elas representam nossa diversidade, nossa imensidão, nossa força.

É na esfera municipal que se encontram soluções por natureza mais focadas, mais exequíveis, mais mensuráveis. E identidades mais marcadas. A comida e a música de Porto Alegre são diferentes da comida e da música de Natal, que são diferentes das de Manaus, de Salvador, de Brasília.

É na esfera metropolitana que se conduzem as discussões mais férteis de gestão pública hoje no mundo, com foco em soluções.

A população urbana da Terra saltará dos atuais 3,6 bilhões de pessoas para 5 bilhões em 2030, aponta estudo recém-lançado da consultoria global McKinsey, chamado “Como Fazer uma Grande Cidade”. É um crescimento espantoso e sem precedentes para o qual já se buscam novas respostas e novos programas. O sistema de transporte que o então prefeito Jaime Lerner implementou em Curitiba e as parceiras público-privadas do prefeito Eduardo Paes no Rio de Janeiro são citadas como iniciativas exemplares no estudo da McKinsey.

O que mais as nossas cidades vão mostrar ao planeta? O novo trânsito que paralisa Salvador e Manaus e/ou a vibrante e específica cultura dessas cidades, que cresceram a ritmo chinês nos últimos anos?

Tenho defendido e abraçado o novo conceito da publicidade em seu caminho da ficção ao documental, do monólogo ao diálogo com o público. Nesse sentido, os estrangeiros vão conhecer o Brasil real, com as nossas forças e com as nossas fraquezas.

Não devemos esconder os nossos defeitos, mas também não vamos esconder as nossas qualidades.

O mundo já está falando conosco. O mundo já está falando de nós. Vamos trabalhar para que essa conversação seja primordialmente para o bem, porque somos maiores que os nossos problemas. Eles não devem nos congelar nem nos definir. O que nos define somos nós mesmos.

******

Nizan Guanaes é publicitário, presidente do Grupo ABC e colunista da Folha de S.Paulo