Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O baixo nível dos ‘bem educados’

O baixo nível demonstrado pela torcida em São Paulo, manifestado com as palavras de baixo calão ofensivas à presidente Dilma Rousseff, vale algumas reflexões. E teve até colunista consagrado que praticamente justificou a baixaria.

É muito comum as classes dominantes brasileiras repetirem o argumento de que algumas manifestações do povo demonstram falta de educação etc. e tal. Há também muita gente que volta e meia repete que a educação pode ser a redenção etc. e tal.

O público presente ao jogo de abertura da Copa do Mundo era de um modo geral de alto poder aquisitivo, sobretudo os pagantes. Os caronas, convidados dos patrocinadores da Copa isentos do pagamento de impostos, também não ficam atrás em matéria de poder aquisitivo. É, portanto, gente teoricamente “educada” nos padrões da elite.

Padrão Fifa

Essa tão propalada educação não impediu a manifestação de baixo nível sob todos os aspectos. Os “mauricinhos” e “patricinhas” presentes ao Itaquerão lavraram seu protesto com a ofensa reveladora, no fundo, de ignorância. Não adiantou nada frequentarem boas escolas e talvez universidades. Ou seja, essa frequência não absolve ninguém.

É que frequentaram escolas, mas não desenvolveram para nada o conceito de cidadania. Isso para não falar de que seus ancestrais, como assinalou o editor da revista Fórum, Renato Rovai, eram escravagistas, apoiaram a ditadura e aceitavam a tortura aos que pensavam diferente dos que tomaram o poder à força a partir de abril de 1964.

Além do caráter da ancestralidade, os presentes ao estádio do Itaquerão nos dias de hoje continuam racistas, odeiam o povo, considerado por eles “mal educado”, têm calafrios com as ações afirmativas, sonegam impostos quando necessário para eles, repudiam a legislação que dá proteção às empregadas domésticas, querem a pena de morte e assim por diante.

Como se tudo isso não bastasse, vale registrar que os preços que são pagos para se assistir aos jogos da Copa do Mundo retiram o povo propriamente dito dos estádios.

Basta olhar as imagens que as câmeras de televisão proporcionam para concluir que o povo está ausente. Em Salvador, por exemplo, podiam-se contar nos dedos o número de negros presentes ao estádio da Fonte Nova, que mais parecia um espaço anglo-saxão do que outra coisa.

O padrão Fifa no caso fica sendo o padrão de quem tem muito dinheiro e pode se dar ao luxo de pagar o preço estipulado pela entidade privada futebolística.

O lamentável episódio merece uma reflexão maior do que a que tem sido feita pelos meios de comunicação de um modo geral.