Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O bla-bla-blá de Blatter

Joseph Blatter nasceu em Visp, Suíça, em 1936. É presidente da Fifa desde 1998, e foi reeleito em 2002, 2007 e 2011. Disputará sua quarta reeleição no ano que vem. É um homem do futuro, sempre foi e sempre será. No começo dos anos 70, foi eleito presidente da “Sociedade Mundial dos Amigos da Cinta-Liga”, uma organização que tentava impedir que as mulheres substituíssem as cintas-ligas por meias-calças.

Seus mandatos foram todos maculados por rumores de irregularidades financeiras e tramoias de bastidores. As mais recentes alegações surpreenderão a poucos dos que acompanham a Fifa ao longo dos anos e não serão surpresa alguma para os brasileiros. Afinal, Blatter sucedeu a João Havelange, 98, o brasileiro que criou essa tradição de manipulação. Ricardo Teixeira, que foi genro de Havelange, presidiu a Confederação Brasileira de Futebol por mais de duas décadas.

Promotores suíços alegaram em 2012 que Teixeira e seu sogro receberam US$ 41 milhões em subornos, em transações ligadas à Copa, quando eram membros do comitê executivo da Fifa. Em 2013, Havelange renunciou à presidência honorária da Fifa e, em 2012, Teixeira renunciou ao seu posto no Brasil por “motivos médicos”.

Limpinha e arrumadinha

Havelange leva o crédito por expandir a presença da Fifa na África e na Ásia, que continuam a ser os baluartes de apoio a Blatter.

Este acusou a imprensa britânica de “racismo” em uma defesa veemente contra as acusações do Sunday Times, de Londres, de que o processo de seleção do Qatar como sede do Mundial de 2022 havia sido prejudicado pela corrupção. A Uefa, organização que comanda o futebol europeu, pediu a renúncia de Blatter. Michael van Praag, presidente da Federação Holandesa de Futebol, declarou que Blatter “não deveria ser candidato à reeleição porque a imagem da Fifa foi maculada em sua presidência”. Greg Dyke, presidente da federação inglesa, disse que as declarações de Blatter de que o racismo era a causa das alegações de corrupção eram “totalmente inaceitáveis”.

Blatter dará alguma atenção a esses apelos? É improvável. Ele prefere a Rússia e o Qatar. Ao contrário do ruidoso, bagunçado, caótico e propenso a greves, mas ao mesmo tempo gloriosamente multirracial e democrático Brasil, na Rússia e no Qatar não haverá manifestações. São dois regimes adequadamente autoritários. E tampouco haverá risco de homossexualidade, que é ilegal no Qatar e virtualmente ilegal na Rússia. Como disse Blatter, os torcedores gays “simplesmente terão de se abster de atividades sexuais”.

A Copa do Mundo será bem limpinha e arrumadinha em 2018 e 2022, exatamente como mulheres usando cintas-ligas.

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Kenneth Maxwell é colunista da Folha de S.Paulo