Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os dois Brasis e o debate eleitoral rasteiro

A Copa da Fifa, no Brasil, está escancarando para o mundo o que sempre houve de mais repugnante na nossa sociedade: o abismo entre dois Brasis. Um, dos que têm dinheiro e, historicamente apropriando-se do Estado, criaram mecanismos institucionais e legais que ratificam seus privilégios em detrimento do segundo Brasil, aquele da maioria da população: os que são tratados como cidadãos de segunda categoria. 

Acontece, que esse segundo Brasil acordou nos últimos anos. Esse gigante que parecia adormecido, resignado com uma situação de extrema injustiça, pobreza e desigualdades sociais, percebeu que a conquista de direitos vai além da formalidade da Constituição. Deve se concretizar na vida das pessoas. Esse gigante acordado está deixando desesperado aquele grupinho que dormia em berço esplêndido, postando-se acima do bem e do mal, e que, agora, está percebendo que, depois de cinco séculos, uma nova história está sendo construída nas terras tupiniquins.

Nos últimos meses, parte significativa do grupinho dos endinheirados, aqueles que torcem contra o Brasil, fizeram terrorismo tentando contaminar o debate eleitoral: primeiro, disseram que a festa de abertura da Copa seria um vexame: erraram; depois, que o Brasil passaria vergonha frente a comunidade internacional: erraram. Falaram que faltaria energia elétrica: não faltou. Que a inflação estava sem controle: mentira. Que os estádios e aeroportos não estariam prontos e reparados para receber os visitantes: erraram mais uma vez. Propagandearam o medo, numa tentativa de implantar o pânico e justificar ações de terror (senha dos desesperados para se justificar guinadas à direita): não conseguiram.

Oportunidade perdida

Na abertura da Copa, os “coxinhas” brancos e da classe média recalcada (e que continuam na Idade Média), com complexo de vira-latas, aquela turma das áreas VIP do Itaquerão, que frequentam as página de Caras, confirmando que educação formal vale pouco, protagonizaram a mais vergonhosa cena de desespero num xingar baixo e covarde a presidenta Dilma Rousseff. Na verdade, não estão aguentando um país cada vez mais democrático e menos desigual. Cadê a turma que estava com Lula quando o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa?

A mídia venal mancheteou o xingamento torpe. Representante da primeira hora de segmentos da elite fascista, vários veículos de comunicação querem, de qualquer modo, espalhar o ódio figadal que não tolera as mudanças irreversíveis na nossa sociedade.

Parte da elite branca e conservadora, bem representada no público do Itaquerão, onde não se via sequer um negro, tem dinheiro, mas não tem educação nem civilidade.

Como não se bastasse a grosseria sem tamanho, é estarrecedor ver que o debate eleitoral rasteiro contamina, cada vez mais, a Copa da Fifa no Brasil.

Aécio Neves que já foi ofendido de maconheiro e cheirador, entre outros epítetos, perdeu uma bela oportunidade de rechaçar os xingamentos a presidenta Dilma e mostrar que uma disputa eleitoral pode se dar dentro dos marcos da civilidade. Na página do PSDB (um partido que surgiu de setores de centro-esquerda e cada vez mais está flertando com a direita), Aécio diz que “temos hoje uma presidente sitiada, só pode aparecer em público muito protegida”.

Há que se perguntar ao candidato tucano: protegida de quem, cara-pálida?

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Robson Sávio Reis Souza é doutor em ciências sociais e professor da PUC Minas