Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A reação ensaiada dos ‘pitbulls’ da grande mídia

O vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, escreveu um artigo intitulado “A desmoralização dos pitbulls da mídia”, sobre o apoio que alguns colunistas/blogueiros deram às agressões sofridas pela presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa 2014, quando torcedores VIPs a mandaram tomar no c… O petista, responsável pelas redes sociais do partido, citou Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Danilo Gentili, Marcelo Madureira (ex-Casseta & Planeta) e o roqueiro Lobão como exemplos desse tipo de (de)formador de opinião da grande mídia que, diariamente, em seus espaços midiáticos, pregam o ódio, a intolerância e o preconceito.

Os gurus neocons não gostaram de ter seus nomes citados. Reinaldo Azevedo, blogueiro da Veja, foi o primeiro a reagir. Acusou Cantalice de criar uma “lista negra”, “pedir a cabeça de jornalistas” e colocar a “integridade física” deles em risco. Marcelo Madureira gravou um vídeo, com mais de 31 mil compartilhamentos no Facebook, seguindo a mesma linha de vitimização. Danilo Gentili, em seguida, escreveu texto acusando o PT de querer “a cabeça” dele e a “de outros jornalistas e artistas que cometeram o terrível crime de discordar deles [petistas]”.

A reação orquestrada pelos três, que certamente ainda contará com a adesão dos demais, era previsível. Reinaldo Azevedo, por exemplo, cunhou o termo “petralha” para (des)qualificar políticos, militantes e simpatizantes do partido. É, portanto, no mínimo estranho que ele se sinta ofendido por ter sido chamado de pitbull. Vale lembrar que quem primeiro o apelidou assim foi a então ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, contra quem o blogueiro reagiu com sua conhecida deselegância.

Pensamento único

O artigo de Alberto Cantalice não contém nenhuma novidade. Ele afirma que os colunistas em questão são “inimigos das políticas sociais” e são contra programas como o Bolsa Família, ProUni e as cotas raciais e sociais. É só ler as colunas e blogs desses nobres senhores para constatar que se trata da mais absoluta verdade.

O Bolsa Família, por exemplo, é frequentemente chamado de “bolsa esmola”. Além disso, os beneficiários do programa são pejorativamente tachados de “preguiçosos”. Isso não é ser contra os pobres? Isso não é uma visão discriminatória da parcela da população beneficiada por esses programas? Isso não é a expressão mais cristalina do velho preconceito de classe?

Esses gurus do conservadorismo midiático posam de defensores da liberdade de expressão, mas acham ruim quando são criticados. Transformaram uma crítica política numa fictícia “lista negra”. Vestem a carapuça da vitimização, quando na verdade eles são os verdadeiros algozes. Há 12 anos, incitam o ódio contra o PT, Lula e Dilma. Há 12 anos, acusam o PT de ter inventado a corrupção no Brasil. Há 12 anos, apostam no caos, no medo e na desesperança.

Essa reação ensaiada revela, ainda mais, o quanto essas vozes do atraso são hipócritas, porque querem uma democracia do pensamento único. É cinismo em seu estado mais latente.

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Alisson Almeida é jornalista