Na quarta-feira (18/6), dois grandes veículos de imprensa do Brasil publicaram uma mesma “barriga”, como se diz no jargão jornalístico. Trata-se da entrevista do técnico da Seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari, o Felipão. A história, já conhecida de muitos leitores é, na verdade, uma entrevista feita pelo jornalista Mario Sergio Conti com Wladimir Palomo, o sósia de Felipão.
A história é pitoresca não apenas pelo equívoco, mas pela sucessão de erros supostamente cometidos pelo jornalista e pela equipe, em geral, de ambos os veículos, na checagem da informação. O primeiro delas é que o falso Felipão concedeu a entrevista num voo do Rio de Janeiro para São Paulo, em momento no qual deveria estar junto aos atletas e comissão técnica, se concentrando para os treinos e jogos que a Seleção terá pela frente.
O segundo questionamento que poderia ter sido feito por Mario Sergio Conti é em relação à companhia do treinador durante a viagem: o atacante Neymar. Afinal, o que um atleta (o principal nome do time brasileiro) estaria fazendo com o treinador em São Paulo, num voo comum e desacompanhado do restante do grupo?
Esses dois questionamentos poderiam ter livrado o jornalista da enrascada em que se meteu ao publicar a falsa entrevista. Mas a sucessão de equívocos não para por aí: o suposto Felipão disse que seu filho estuda Economia na Faculdade São Judas Tadeu. Nada contra a escola, mas é de se estranhar que o filho de uma das maiores personalidades do bilionário futebol nacional, talvez até mundial, estude numa universidade fora dos círculos acadêmicos de maior prestígio do país.
Ouvir a “fonte”
Por fim, ele menciona que ambos os sósias estavam voltando para a capital paulista após uma participação no programa Zorra Total, da Rede Globo. Ora, um técnico de futebol em sã consciência deixaria seu time de lado para participar de um programa de humor durante a disputa do Mundial?
Enfim, como disse o sósia de Felipão, na entrevista até papagaio fala! E acredita nele quem quer. Desta maneira, é possível concluir apenas que o deslize do jornalista ao conduzir a entrevista mostra, de modo geral, o nível da esculhambação que acometeu o jornalismo. Não se lê mais nada, não se informa, muito menos se questiona. Apuração virou sinônimo de ouvir passivamente a fonte. E é assim que as besteiras vão dominando os noticiários nos jornais, rádio, revista TV e internet.
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Willian Marques Miron da Silva é jornalista