Enquanto todas as atenções estavam voltadas para a 20ª edição da Copa do Mundo de futebol, no sábado (21/06) completaram-se dez anos do falecimento de Leonel de Moura Brizola, um dos políticos brasileiros mais atuantes do século passado. Brizola esteve presente em importantes acontecimentos de nossa história contemporânea como a campanha pela volta do sistema presidencialista em 1963, o movimento das Diretas Já e a primeira eleição presidencial após a ditadura militar, em 1989.
Ao longo de sua carreira como homem público, Brizola, por suas posições esquerdistas e pela personalidade forte, envolveu-se em inúmeras polêmicas com a conservadora imprensa brasileira, principalmente com as Organizações Globo. Em 1994, o político gaúcho, então governador do estado do Rio de Janeiro, e a emissora da família Marinho protagonizaram um momento épico na história das telecomunicações no Brasil. Em uma das edições do Jornal Nacional, sob o pretexto de citar um editorial do jornal O Globo, Brizola foi ridicularizado, teve sua saúde mental questionada e foi chamado de “senil”.
Covardemente atacado em sua honra, Brizola conseguiu na justiça o direito de resposta contra as calúnias a ele dirigidas. Sendo assim, na edição do dia 15 de março do Jornal Nacional, o âncora Cid Moreira, visivelmente constrangido, leu o texto em que o político gaúcho denunciava os conchavos realizados pelas Organizações Globo. Durante aproximadamente três minutos, em um daqueles raros momentos em que o pequeno Davi vence o gigante Golias, Cid Moreira teve que “incorporar” Leonel Brizola e afirmou que a Globo é tendenciosa, compactou com regimes autoritários, manipula informações, tentou sabotar e boicotar o carnaval carioca em 1982 e ataca os homens públicos que não se vergam diante do seu poder. Em suma, uma realidade que não mudou nestes vinte anos.
Infelizmente, não há mais políticos como Brizola. Numa época em que o atual governo federal (ironicamente uma vítima da verborragia da imprensa hegemônica) se recusa a adotar qualquer medida que possa alterar a vergonhosa concentração midiática que impera em nosso país, é extremamente oportuno lembrar a coragem de Leonel de Moura Brizola que, pelo menos por uma noite, lavou a alma dos setores progressistas da sociedade brasileira ao denunciar os desmandos da Vênus Platinada.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG