O Brasil está no centro do mundo, nas telas do mundo. Basta olhar, ouvir, ler, seguir, compartilhar. No domingo, se você colocasse as palavras “Brazil world cup” no Google, teria, em 42 segundos, 446 milhões de resultados.
E, para muito além do mundo virtual, eles estão entre nós. Chilenos, coreanos, ingleses, croatas, russos, alemães, franceses, holandeses, americanos, uruguaios, argentinos… Multidões de estrangeiros dos quatro cantos do planeta ocupam seus espaços nas cidades brasileiras ligadas ao Mundial. São ondas laranjas, vermelhas, azuis, verdes – um arco-íris que combina com a paleta colorida do Brasil.
A orla do Rio de Janeiro lembra, demograficamente, a Times Square ou o Louvre, tomada por uma babel de nacionalidades animada, interessada, disposta a conhecer e a se divertir em nosso país.
Copacabana, princesinha da mídia global, recebe as equipes de TV de braços abertos e estúdios de vidro no calçadão da praia, de onde elas transmitem boletins ao vivo a seus países de origem. Perto do forte de Copacabana, bem ao lado da estátua de Dorival Caymmi dando boas-vindas ao mar, um grupo de correspondentes da guerra futebolística se reúne num quiosque à beira-mar para tomar chope ou água de coco com um notável sorriso no rosto, colocado ali pela cidade maravilhosa e seu caloroso inverno.
O Brasil tem tanto a oferecer ao mundo. O mundo agora veio ver. E está vendo a vida como ela é por aqui. Nossos defeitos estão expostos e só são superados por nossas qualidades.
Que grande país do mundo emergente tem nossas credenciais? Democracia, economia de mercado, em paz com os vizinhos e com o mundo, potência energética, potência de alimentos, potência mineral, mercado interno imenso, povo trabalhador e empreendedor. Somos um grande case a ser cada vez mais trabalhado num mundo que quer gostar do Brasil e consumir o Brasil.
Somos não só uma potência emergente, mas um estilo emergente. A não ser nos campos de futebol, não queremos derrotar os outros, queremos seduzi-los.
O mundo chegou
A Copa, nesse contexto, é uma bênção e um começo. Uma aproximação imediata e total com o mundo. Que começa agora, passa pela Olimpíada do Rio em dois anos e terá que ser sustentável ao longo das décadas. Será uma evolução por definição multiplataforma: via negócios, alianças comerciais, alianças políticas, políticas culturais, propaganda. É preciso consolidar a marca Brasil e construir as marcas do Brasil para agregar valor ao “feito no Brasil”.
Olhar o turismo de forma estratégica é arma fundamental nesse processo. Basta ver o que está acontecendo nas ruas brasileiras. Milhares de relações afetivas e comerciais são construídas todo dia neste mês em que o Brasil se tornou central. São as moças paulistas que buscam torcedores estrangeiros na Vila Madalena. O potiguar que misturou o mate do uruguaio com a caipirinha numa praia de Natal. Os índios pataxós de Cabrália que literalmente encantaram a seleção alemã. As empresas nacionais que trouxeram fornecedores e clientes para seus camarotes.
O Maraca domingo passado estava lotado de russos e belgas assistindo suas seleções numa tarde ensolarada do Rio de Janeiro. Sairão de lá com uma imagem melhor do Brasil.
O futebol, afinal, é a nossa praia. Nossos talentos no esporte rivalizam com os talentos mundiais como em nenhum outro setor de intenso capital humano. Nossa seleção é a seleção das seleções. Nossa Copa, a Copa das viradas, das surpresas, das goleadas. Por essas que o grande compositor russo Dmitri Shostakovich dizia que o futebol é o balé das massas, unindo beleza, ritmo e drama.
Do jeito surpreendente que essa Copa começou, fica difícil prever como vai acabar. O Brasil, de qualquer jeito, já ganhou. Ao contrário do que muitos pensavam, não fizemos um papelão, mas um grande papel.
Convidamos o mundo, e o mundo chegou. Agora temos que fazer com que ele fique.
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Nizan Guanaes, publicitário e presidente do Grupo ABC, é colunista da Folha de S.Paulo