Com frequência, me emociono com um Brasil distante e com o olhar das pessoas que vivem nesses lugares ao se depararem, pela primeira vez, com coisas que já conhecemos muito bem. Sem deixar de lado todos os problemas que as levaram a esta situação, e suas condições de vida, considero esses encontros primorosos. Um verdadeiro exercício de olhar.
No caso do texto (ver aqui), estamos falando da chegada da luz elétrica em Cafundó, vilarejo de Choró, no sertão central cearense, assunto de uma matéria publicada na Folha de S.Paulo de segunda-feira (30/6). A novidade levou a comida pra geladeira e a TV pro cotidiano. E também a possibilidade dos moradores assistirem aos jogos da Copa do mundo na telinha.
Sinto uma legítima alegria ao constatar que, de alguma forma, o mundo dessas pessoas se alterou. O que já me basta, como a primeira vez que alguém lê um livro ou vê o mar. No texto, estão claras as consequências desse contato; há menções ao programa do governo mas, antes de tudo, há trechos sobre a beleza desse primeiro olhar. Ao ler o relato do garoto que não imaginava o campo de futebol tão grande, sinto como se eu também o tivesse visto pela primeira vez. E poder reviver esse “estranhamento” realmente, me emociona.
O lado bom das coisas
Para quem é do jornalismo, o texto pode não trazer surpresas. Para os mais céticos, até pode abusar dos clichês. Mas acho que a mensagem aqui extrapola a TV e o Brasil pobre. Só quem teve contato com uma boa história, digna de ser contada, sabe do que estou falando. E isso pode ser em qualquer área: no cotidiano, nas artes, na moda, na literatura, na arquitetura ou na gastronomia. Quando elas aparecem, todos os “poréns” e dificuldades vão embora. E, melhor ainda, muitas vezes saímos modificados.
Nem sempre acontece. Nem sempre há prazo e espaço. E, claro, as palavras são escorregadias, nos faltam. Sempre lidamos com o algo mais a dizer. E falo isso como uma aprendiz na profissão. Não conheci tantas pessoas e lugares interessantes como gostaria, mas posso dizer que, de uma forma ou de outra, os contatos que tive, sempre carreguei comigo. Na leitura diária, numa conversa com pessoas de perfis diferentes, em visitas a novos lugares, tento sempre ser absorvida pelas histórias.
Não sei se isso faz de mim uma boa ou má profissional. Talvez seja crítica de menos. Talvez seja egoísta o bastante por desejar sempre me emocionar. Ainda não descobri. Mas, no fundo, é isso que me interessa nessa profissão. Tentar mostrar o lado bom das coisas. Poder estar com pessoas e lugares, iguais ou não, familiares ou não, e conseguir enxergar o que ali pode acrescentar, modificar ou, ao menos, deslocar a atenção de alguém. Desejar que me deixem emocionada. E que eu consiga chegar às emoções dos outros. Como um menino que joga futebol todos os dias e que nunca viu nem os torcedores e nem o juiz.
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Catarina Leite é jornalista